Ana Drago: “Parece que os partidos são os únicos donos da política”

Fórum Manifesto afirma-se autónoma dos partidos que suportam o Governo, mas “capaz de contribuir para a sustentabilidade” dos acordos que o legitimam. Mostram “solidariedade com a maioria parlamentar” perante pressões e querem contribuir para “uma nova hegemonia política e ideológica de esquerda”.

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Ana Drago admite que apoiam a nova maioria parlamentar, mas "sem prescindir de um olhar crítico" Rui Gaudêncio

A associação Fórum Manifesto, que nas eleições legislativas concorreu integrada na candidatura cidadã Livre/Tempo de Avançar, quer ocupar um espaço de discussão autónomo em relação a partidos: não quer ser, nem unir-se a um. Tudo para que a intervenção e debate políticos “não fiquem reféns da pertença partidária”: “Parece que os partidos são os únicos donos da política e a Fórum Manifesto tem a capacidade para ser esse espaço de debate da cidadania”, diz Ana Drago, membro desta associação e ex-bloquista.

Apesar de se ter unido ao Livre nas legislativas, essa ligação findou com resultados que não permitiram chegar ao Parlamento. Com a resolução aprovada no fim-de-semana, a Fórum Manifesto – da qual fazem parte, por exemplo, Ricardo Paes Mamede e Isabel do Carmo – deixa claro, no documento, que é “uma associação política de activistas que não se propõem constituir em partido ou integrar forças partidárias” e “é neste espaço de cidadania política não partidária” que querem intervir. A associação valoriza “o papel indispensável dos partidos políticos em democracia”, mas estes não devem "dominar todo o espaço da participação política”.

Ana Drago ressalva que continuam a ser um espaço de encontro à esquerda, mas, no actual contexto político, entende que uma distância em relação aos partidos lhes permite melhores condições para discutir certas matérias - no documento, são elencadas, entre várias outras, a arquitectura da União Europeia e da União Monetária, a coesão territorial, a reformulação do sistema de representação política.

“Se olharmos para a sociedade portuguesa, há falta de espaços de debate de cidadania, que acabam por ter mais liberdade para debater e até para eventuais compromissos. A Manifesto tem essa responsabilidade”, continua Ana Drago.

Admite que a associação apoia a nova maioria parlamentar de esquerda, mas “sem prescindir de um olhar crítico”. O rumo que essa maioria está a traçar é “importante” - porque está a “defender o país”, a “devolver rendimentos às pessoas” - mas, sublinha Ana Drago, “há um conjunto de debates a fazer”.

Na resolução, a Manifesto afirma-se “como um fórum autónomo dos partidos que suportam” o Governo, “mas capaz de contribuir para a sustentabilidade e desenvolvimento dos acordos que o legitimam”. Os membros defendem “solidariedade com a maioria parlamentar perante pressões a que inevitavelmente estará sujeita”, mas entendem que “os constrangimentos internos e externos e o equilíbrio de forças na Assembleia da República envolvem incertezas e riscos significativos, dificultando a discussão de questões difíceis”.

Num momento, prosseguem na resolução, “em que os partidos que apoiam o Governo não poderão deixar de estar focados em questões legítimas de natureza táctica e negocial, e em que as restrições orçamentais europeias assumirão uma importância crítica, é indispensável”, frisam, “o diálogo entre as forças partidárias de esquerda”. E “mobilizar as energias que a expectativa dos cidadãos tem mantido em estado latente”. A Manifesto, garantem ainda, “tem condições” para contribuir “para a construção de uma nova hegemonia política e ideológica de esquerda”.

Algumas das medidas prospostas no documento passam pela criação de uma plataforma electrónica de produção e publicação de conteúdos, pela realização de iniciativas regulares de reflexão da esquerda e uma grande reunião anual no formato “Universidade de Verão”. 

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