Os Rolling Stones da “pocilga” aos estádios

Em Exhibitionism começamos pela recriação do apartamento habitado pela banda em 1962 e acabamos com os Rolling Stones septuagenários em tocar Satisfaction. E depois podemos comprar um pijama por 355 euros.

Foto
HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS

Podemos ver como tudo começou, através da recriação do pequeno apartamento que Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones partilhavam em Edith Grove, no bairro de Chelsea, em Londres, em 1962. Latas de cerveja vazias, beatas de cigarro, camas por fazer de aspecto pouco higiénico e pratos sujos a formar uma torre no lava-louça: “uma pocilga”, basicamente, ouvir-se-á Keith Richards descrever. E, a julgar pelos relatos que a imprensa britânica tem dado de Exhibitionism, a exposição dedicada a cinco décadas de história dos Rolling Stones inaugurada a 5 de Abril na Saatchi Gallery, em Chelsea, podemos tirar conclusões sobre onde tudo chegou – a resposta estará na loja no final da exposição e nos preços dos objectos ali vendidos.

Descrita pelo Daily Beast, como uma “autobiografia envolvente, mais que uma exposição”, tem sido notícia (também) por questões laterais. Na loja de souvenirs, diz-se, fica exposta a forma como os Rolling Stones, de ícones da contracultura nos anos 1960, se transformaram numa máquina de fazer dinheiro representativa da cultura que em tempos combateram. A prova, argumenta-se, está, exemplo aleatório, nas 285 libras (355 euros) a pagar por um pijama comemorativo da exposição ou pelas quase 40 libras (49,9 euros), que custa o bilhete de entrada e o guia áudio que, no contexto de Exhibitionism, é praticamente obrigatório adquirir - são os próprios Stones que servem de cicerones.

Foto
Guiados pelos próprios Rolling Stones (são deles as vozes do guia áudio), ouve-se na exposição o blues que tanto inspirou a banda Hulton-Deutsch Collection/CORBIS

Criada certamente por inspiração de David Bowie Is, inaugurada em 2013 no museu londrino Victoria & Albert, Exhibitionism pretende ser a exposição definitiva da banda de Brown Sugar, cobrindo todos os aspectos do grupo: a música, os palcos, a moda, os bastidores. Guiados pelos próprios Rolling Stones (são deles as vozes do guia áudio), ouvir-se-á o blues que tanto inspirou a banda e que esta, como se explica o lendário Muddy Waters, “apresentou aos miúdos brancos americanos”. Há salas dedicadas à estética da banda, quer sejam o famoso logótipo da língua ou a roupa usada em digressão pelos Stones, Mick Jagger em particular, bem como réplicas dos palcos das digressões de estádio de que foram pioneiros na década de 1970 – e talvez esteja mais aí, nessas réplicas, mais do que preço das lembranças, aquilo em que se transformaram.

Um dos destaques tem sido a sala que permite ao público transformar-se em produtor dos Stones, através da possibilidade de manipulação das misturas de canções nos smartphones dos visitantes. Entre a reprodução dos camarins da banda, as fotografias históricas, apontamentos de diário, Scorsese como guia da viagem pela carreira da banda no cinema e vídeos musicais de todos os períodos de vida do grupo – a exposição termina com uma projecção 3D dos Stones em palco, na actualidade, a tocar Satisfaction -, Exhibitionism tem sido elogiada pela abrangência do material apresentado. As críticas apontam a falta de uma continuidade ou ideia de narrativa que crie sentido de todo o material disposto – e falam do preço dos pijamas, das camisolas e dos posters autografados, mas essa é outra história.

Sugerir correcção
Comentar