Iniciação carnal

O Diário de uma Rapariga Adolescente tem um olhar inteligente, descomplexado, sobre o que é descobrir a vida aos 15 anos.

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O Diário de uma Rapariga Adolescente: uma naturalidade refrescante no modo como aborda a descoberta da sexualidade

Ao adaptar um aclamado romance gráfico de Phoebe Gloeckner, a argumentista e realizadora Marielle Heller não fez a coisa por menos: a sua “rapariga adolescente” na São Francisco de 1976 - interpretada com garra pela inglesa Bel Powley – tem 15 anos, aspirações a ser cartoonista (inspirada por Aline Kominsky, a esposa de Robert Crumb) e vive um affair quase-ninfomaníaco com um homem vinte anos mais velho que por acaso também é o namorado da mãe. Talvez por Heller já ter previamente adaptado o livro a uma produção teatral, a realizadora consegue evitar que O Diário de uma Rapariga Adolescente tombe na exploração voyeurista ou na titilação gratuita, preferindo-lhe uma naturalidade refrescante, sobretudo no modo como aborda, sem complexos nem pruridos, a descoberta da sexualidade (e só isso já é muito).

O que aqui se acompanha é a iniciação carnal de uma miúda deixada à solta por uma mãe cabeça no ar e que tenta navegar os escolhos da adolescência o melhor que pode, que de algum modo aprende sozinha a ser uma mulher – e a performance quase sem esforço de Powley, simultaneamente lúdica e concentrada, ajuda muito. É pena que, em termos de história, o filme acabe por se conformar a um arco narrativo convencional, até um pouco conformista, mas o modo como Heller e Powley conseguem fazer passar para o espectador a montanha russa emocional de descobrir a vida aos 15 anos não é nada de deitar fora.

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