John Hughes intelectual

Um romance iniciático de uma leveza quase insolente embrulhado num filme que ganharia em ser menos autoral.

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Há sempre qualquer coisa de autobiográfico e/ou de auto-referencial a trabalhar o cinema de Arnaud Desplechin, cineasta que assume de corpo inteiro uma postura de “autor”, literário e cerebral como só França ainda vai sendo capaz de produzir.

Três Recordações da Minha Juventude é um “filme-irmão” de Comment je me suis disputé… (ma vie sexuelle), reencontrando a personagem principal do filme de 1996 que pôs o cineasta no mapa. O grosso do filme é um romance iniciático de uma leveza quase insolente, com qualquer coisa de John Hughes intelectual – o que teria muito mais graça se não se sentisse demasiado a tendência de Desplechin para o gesto académico de se querer inscrever à viva força numa linhagem artística (é só ver o sub-título do filme, As Nossas Arcádias), e a sua proverbial necessidade de explicar tudo muito bem explicadinho. Estamos, ainda assim, mais próximo daquele que é o nosso Desplechin preferido, Um Conto de Natal (2008), do que do passo em falso que foi o anterior Jimmy P (2013), e os dois jovens actores que transportam o filme aos ombros, Quentin Dalmaire e Lou Roy-Lecollinet, são extraordinários. 

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