Alternativa para Sistema de Mobilidade do Mondego não reúne consenso

Discussão sobre implementação de sistema de autocarros rápidos onde não estiveram presentes decisores políticos levanta questões técnicas.

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O projecto do Metro MOndego prevê a instalação de uma linha urbana, em Coimbra, e da ligação à Lousã Adriano Miranda

A possibilidade de optar por outro sistema de transportes que não o metro ligeiro para ligar Serpins a Coimbra não é recente. Desde que a obra que visava instalar o Metro Mondego foi suspensa no início da década, a possibilidade de avançar para a implementação de um sistema de Bus Rapid Transit (BRT) foi levantada.

Em Coimbra, técnicos e empresas da área dos transportes juntaram-se nesta terça-feira para discutir este sistema, numa iniciativa promovida pela publicação Transportes em Revista em que foi notada a falta de actores políticos da região. Entidades como a CCDR, Conselho Inter-Municipal da Região de Coimbra e a Sociedade Metro Mondego foram convidadas mas “declinaram” por razões não especificadas pela organização.

Uma opção apresentada pelas empresas presentes como sendo de implementação menos dispendiosa e mais rápida, o BRT obteve a oposição do ex-presidente da Sociedade Metro Mondego, Álvaro Maia Seco. O antigo responsável revelou que a solução do sistema de autocarros “foi analisada institucionalmente pelo menos duas vezes”. Uma quando ainda estava à frente da sociedade, em 2008, e outra já depois de ter apresentado a sua demissão em 2010.

O também ex-vereador independente eleito pelo Partido Socialista entende que, tendo estudado a opção, “quem defende o BRT tem que provar como é que se resolve o problema do Ramal da Lousã”. A ferrovia foi encerrada em 2010 e os carris levantados para dar lugar ao metro, o que não aconteceu até hoje.

Para Maia Seco está por provar que a utilização de autocarros rápidos no trajecto – entretanto remodelado para instalação do metro ligeiro – possa oferecer “condições de operacionalidade semelhantes” ao Metro e com implementação mais barata. A questão está em oferecer um “serviço competitivo”, a cerca de 90 quilómetros por hora sem que, por isso, seja menos seguro.

Ao fim de três anos à frente da SMM, Maia Seco justificou então a demissão com a interrupção das obras pelo segundo governo de José Sócrates, criticando a substituição do metro pela opção em discussão nesta terça-feira. O projecto previa duas linhas: uma que atravessaria os concelhos de Lousã, Miranda do Coimbra e Coimbra e outro na cidade de Coimbra.

Na iniciativa que contou com o apoio de construtores de autocarros e consultores na área dos transportes – potencialmente interessados no BTR – houve mais questões que respostas. A plateia de técnicos insistiu em perguntas como a operacionalidade dos sistema e duração das baterias responsáveis pela alimentação dos autocarros, bem como circulação dos veículos no trajecto construído para o metro.

O antigo presidente da SMM manifestou a preocupação sobre o carácter “experimental” desta solução, uma vez que diz ser um sistema “não testado”, fazendo depender o seu funcionamento de “optimizações e desenvolvimento futuro”. O director da Transportes em Revista, José Monteiro Limão, destacou que o objectivo não passa por “apresentar uma solução”, mas por dar a conhecer outras possibilidades.

Com duas décadas, a suspensão do projecto do Sistema de Mobilidade do Mondego foi anunciada em 2011. Apesar de prever uma dotação de 2,1 milhões de euros no Orçamento do Estado para a Sociedade Metro Mondego, o actual governo ainda não tornou pública uma decisão quanto ao futuro da obra. No entanto, o programa eleitoral do Partido Socialista incentiva “a implementação de serviços de BRT, que combinam a capacidade e velocidade do metro ligeiro a um custo muito inferior”.

Na vertente mais técnica, André Remédio, da Engimind, explicou que a implementação deste sistema implica vias específicas para a circulação dos autocarros, bem como a instalação de equipamento próprio, como estações e sinalização. Tal como no sistema de metro ligeiro, o acesso é feito através de uma plataforma ao nível do veículo, explicou o director técnico da consultora na área de mobilidade e transportes.

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