O novo skate park do Silo-Auto está em vias de extinção

O Skate Park do Silo-Auto é o único espaço coberto na cidade do Porto e pode estar prestes a desaparecer

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Martin Henrik

Porto. Silo-Auto. Rés-do-chão. Fomos conhecer a Kate Skate School, que abriu os seus portões vermelhos em Maio de 2015, e ficámos a saber que a escola pode ter os dias contados neste espaço de betão utilizado maioritariamente como parque de estacionamento.

"É pena", lamenta Nuno Gaia, dono da loja com o mesmo nome e um dos professores da escola (juntamente com João Neto). "Porque o Silo-Auto está praticamente ao abandono e agora que estamos a tentar realmente fazer algo saudável com o espaço, querem tirar-nos isso para talvez instaurar um negócio que implique mais dinheiro envolvido."

Em pouco tempo — e com muito trabalho — a dupla transformou uma antiga oficina no único skate park coberto da cidade. Agora, o espaço irá a concurso público e o futuro à Câmara Municipal do Porto pertence (o P3 tentou várias vezes obter uma reacção por parte da Câmaro do Porto sem qualquer tipo de resposta). O passado explica-se precisamente pelos obstáculos que os praticantes desta modalidade sempre encontraram no Porto. Poucos espaços e muita chuva.

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Os alicerces surgiram em Maio de 2014, quando a Converse organizou em Lisboa o Cons Project, projecto original de Los Angeles. O evento serviu para a Kate Skate Shop apresentar à marca norte-americana o projecto Do It Yourself. A Converse gostou da iniciativa e ofereceu as rampas e os obstáculos aos empreendedores portugueses, fazendo um contributo para as actuais e futuras gerações de skaters.

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Com o material nas mãos, era preciso arranjar um espaço. Nesse sentido, a loja de skate portuense entrou em contacto com a Porto Lazer, que disponibilizou a antiga oficina Prestigion, no edifício Silo-Auto. Mais uma vez, a comunidade skater portuense fez com que o projecto acontecesse: uns limparam, outros montaram rampas, houve quem instalasse os obstáculos e assim, com a ajuda de todos, surgiu o primeiro e único skate park coberto da cidade.

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"Não queremos isto só para nós, queremos partilhar isto com todosNuno Gaia. "Temos imensa gente que não é do Porto a querer vir andar de skate para aqui, pessoal de Braga, Viana, Aveiro, Póvoa... Estas rampas existem porque foram oferecidas. Não a 'nós', um grupo particular, mas a 'nós', comunidade skater. E é exactamente por isso que aparece este espaço: surge da vontade em juntar as pessoas."

Aulas de skate

O proprietário da loja quis dinamizar ainda mais o espaço, incentivar e formar novas gerações de skaters, promovendo este "desporto alternativo" e mais por amor à camisola do que por negócio. Para já, a escola recebe aos fim-de-semana alunos que queiram aprender e experimentar a adrenalina em cima de uma tábua com quatro rodas.

"Para os alunos conseguirem fazer uma manobra têm de tentar muitas vezes", sublinha Nuno, um dos professores de serviço. "Não é um desporto fácil, é preciso serem persistentes e eles próprios acabam por transpor isso para o dia a dia, ou seja, quando quiserem alguma coisa na vida vão saber que irão ter de tentar até atingirem o sucesso." Para além disso, o skate promove também a união entre diferentes gerações e regiões: "Uns são da Boavista, outros da Maia, da Póvoa, uns têm cinco anos, outros 40 e assim se cria uma ligação forte em que o elo comum é a paixão pelo skate".

Apesar de a iniciativa saudável que os dois skaters procuram proporcionar a todos os amantes da modalidade, o skate park pode "desaparecer", bem como todas as suas rampas e obstáculos. Durante o Inverno os skaters não terão onde se abrigar da chuva e os pais dos praticantes mais novos deixarão de sentir a tranquilidade de ter um espaço onde os seus filhos andam de skate com a supervisão de alguém mais experiente.

Para ripostar, os dois skaters procuram dinamizar ainda mais o espaço com o apoio de um grande patrocinador que ajude a sustentar e rentabilizar a antiga oficina. "Procuramos parcerias com associações para miúdos que não têm maneira de comprar um skate ou de experimentar a modalidade". O plano passaria pela convergência com outras artes (organização de eventos, campeonatos de skate, workshops, graffiti, música...) ou até pequenos negócios paralelos como um "food corner".

"Também tenho uma loja de skate, sempre dediquei a minha vida a isto e sempre quis puxar pelo skate e não o deixar morrer."

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