Teatro: “ATEQUANDO”, uma peça sobre o conflito entre ir e ficar

“ATEQUANDO” é a peça de estreia de 2016 do Teatro Universitário do Porto, em cena até 20 de Fevereiro. O JPN esteve à conversa com Orlando Gilberto-Castro, director do TUP

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Orlando Gilberto-Castro é presidente da direcção do TUP Sara Gerivaz

O “conflito interno entre ir e ficar e o caminho que nunca termina”. À partida, a ideia pode parecer um pouco abstracta, mas esse acaba por ser também um dos objectivos do teatro: levar o público à reflexão. “ATEQUANDO” é a nova peça do Teatro Universitário do Porto (TUP), em cena até dia 20 de Fevereiro. O ponto de partida para a construção da peça foi o passado do TUP. Ainda que “ATEQUANDO” não reflicta esta viagem à memória do teatro, este foi o motor de construção de um espectáculo de raiz, “fortemente TUP na sua criação e na sua execução”.

Orlando Gilberto-Castro, presidente da direcção, conta ao JPN que o objectivo foi criar algo inteiramente concebido pelos membros do TUP. O passo inicial foi visitar o imaginário do grupo, trabalhos antigos e o património imaterial deixado ao longo dos anos. “O TUP existe desde 1948 e estivemos a ver fotografias, a vasculhar um bocado os arquivos, a beber de toda essa história e de todas essas coisas que já passaram por onde nós estamos agora e utilizamos isso como um motor para começarmos a trabalhar”, explica ao JPN.

Daí surgiu algo completamente diferente. A primeira peça do ano fala “sobre a procura e a busca por um caminho que nunca chega a acontecer”. O texto e a encenação de “ATEQUANDO” são da autoria de Raquel S., sócia e antiga directora do TUP e o elenco é formado por nove pessoas, seis actores e três participantes especiais.

TUP recebeu 330 candidaturas

Para além da peça “ATEQUANDO”, o TUP prepara já novos espectáculos. Um deles acontece em Junho e culmina com o final do Curso de Iniciação à Interpretação, lançado pelo teatro de dois em dois anos. “Há uma fase de aulas e uma fase de ensaios que termina num espectáculo que tem sempre características particulares por ser o do curso de iniciação. E é sempre um curso grande, um elenco grande”, revela Orlando Gilberto-Castro.

Neste ano o TUP recebeu 330 candidaturas, um número que deixou a organização surpreendida e satisfeita. Ainda que depois tenham realizado pouco mais de 50 audições para apurar os 20 novos membros, esta procura é algo que alimenta a força do teatro e da equipa. “É mesmo bom perceber que há toda esta vontade de trabalhar connosco e de mergulhar nos nossos projectos”, indica o director.

Embora o teatro faça parte da Universidade do Porto, é livre e acolhe todos os que queiram entrar. A multidisciplinaridade dos voluntários confere aos espectáculos um carácter único e as idades vão dos 18 aos 38 anos. “O TUP não procura formar actores profissionais que tenham uma série de competências muito estandardizadas, pretendemos dar ferramentas para que cada um possa utilizar aquilo que já tem e aquilo em que se sente confortável”, explica Orlando.

Ao longo dos anos são muitos os que vão abraçando o projecto e não há forma de contabilizar os sócios do TUP. Há sempre gente interessada, gente que se ausenta durante uns anos e volta, membros dispostos a continuar. O público também não é problema para o teatro. Por norma há sempre “casa cheia”, com a taxa de ocupação a rondar os 80%.

As instalações

A peça “ATEQUANDO” vai ser apresentada ao público num auditório da antiga Escola de Artes, na praça Coronel Pacheco, cedido “amavelmente” pela ACE-Teatro do Bolhão. Parte das instalações são, por agora, a “casa” do Teatro Universitário do Porto. A luta por um espaço próprio para ensaios e espectáculos é já uma questão antiga e têm sido feitos esforços para a resolver junto da reitoria da Universidade do Porto.

“Quer este complexo da ACE que nos foi emprestado, quer o nosso antigo edifício pertencem à reitoria. Tivemos de sair por ordem deles por questões de segurança, o que nós compreendemos, sendo que não nos foi dada propriamente uma alternativa”, afirma Orlando. Apesar das limitações do espaço, o TUP está a tentar gerir a situação da melhor forma e a prioridade é não parar a actividade, que se mantém ininterrupta desde 1948.

“Neste momento o que estamos a tentar é que a nossa permanência nas actuais instalações, com todos os seus problemas, se torne definitiva. Isso permite-nos fazer outro tipo de actividade, com outra segurança. Estamos em nossa casa e temos um tipo de abordagem diferente”, conclui o presidente da direcção.

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