David Bowie queria as suas cinzas espalhadas na ilha de Bali

Testamento do artista britânico foi revelado esta sexta-feira em Nova Iorque, no mesmo dia em que foi anunciada a edição de uma biografia do cantor. Mulher e filhos são os herdeiros da fortuna. The Age of Bowie, de Paul Morley, chegará no final do ano.

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O músico britânico David Bowie deixou em testamento uma fortuna de cerca de 100 milhões de dólares (92,3 milhões de euros) à mulher Iman, e aos seus dois filhos, e indicou a sua vontade de ser cremado e ver as suas cinzas espalhadas, segundo rituais budistas, na ilha de em Bali, na Indonésia. Bowie terá sido cremado em Nova Iorque dois dias depois da sua morte. Seguindo os seus desejos, ninguém, nem mesmo a família, esteve presente.

Não é sabido se as cinzas do cantor já terão sido espalhadas pela ilha asiática. Certa era a sua vontade de manter secreto o local em que tal aconteceu (ou acontecerá). "Ele não queria uma sepultura ou um memorial", afirmava há umas semanas, ao Sunday Mirror, uma fonte próxima de Bowie. "Queria ser recordado pela sua vida, não com um monumento. O mais importante para ele era que se mantivesse o legado do seu trabalho. Detestaria que a sua vida fosse imortalizada numa lápide".

O testamento foi aberto na sexta-feira num tribunal nova-iorquino, e revelado pelo jornal New York Daily News. A fortuna do artista será repartida pela mulher (que receberá 50%) e pelos dois filhos, que teve em dois casamentos (e que receberão 25% cada): da primeira relação, com Angela Barnett, o filho Duncan Jones, de 44 anos; e do casamento com a ex-modelo Iman, a filha Alexandria, com 15 anos.

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Outras indicações precisas no testamento de Bowie revelam a vontade de deixar a Alexandria a propriedade Little Tonshi Mountain, perto de Woodstock, e a gratificação de dois milhões de dólares à sua assistente de sempre, Corinne Schwab, e ainda um milhão de dólares a Marion Skene, amiga do cantor e também ama do seu filho mais velho.

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David Bowie morreu no dia 10 Janeiro, dois dias depois de ter assinalado o 69º aniversário, e ter sido notícia com o lançamento surpresa do álbum Blackstar. Com a notícia da sua morte e a comoção generalizada que se viveu um pouco por todo o mundo, a sua discografia rapidamente chegou ao primeiro lugar dos tops.

Na passada sexta-feira, o cantor chegou mesmo a igualar no Reino Unido um recorde estabelecido por Elvis Presley. Na sequência da morte do cantor de Heartbreak hotel, em Agosto de 1977, doze álbuns seus entraram para o top 40 do Reino Unido. Em Janeiro de 2016, o mesmo acontece com David Bowie. Blackstar, o seu último álbum, está no topo, a colectânea Best Of Bowie surge em terceiro lugar, atrás de 25, de Adele, e só no top 10 encontramos ainda os clássicos Hunky Dory e Ziggy Stardust.<_o3a_p>

De acordo com o diário nova-iorquino, David Bowie vendeu cerca de 140 milhões de discos durante a sua carreira de quase cinco décadas, encaixando receitas a rondar os 55 milhões de dólares pela vendas das chamadas “Bowie-Bonds” – um instrumento financeiro criado pelo artista assente na venda dos seus royalties autorais.

Na sequência da morte, houve muita curiosidade em saber em que trabalhava Bowie para o futuro. Tony Visconti, seu produtor e amigo há quatro décadas, confessou, por exemplo, ter discutido ideias sobre possíveis novos álbuns. Muitos sonharam com a hipótese de, para além de Blackstar, Bowie ter deixado como despedida uma autobiografia. Sabe-se que não o fez. É certo, porém, que não tardará muito até que comecem a ser publicadas obras sobre a sua vida e o seu legado. Uma delas chegará no final deste ano e será escrita pelo jornalista e crítico musical Paul Morley, que publicou em 2015 I'll Never Write My Memoirs, sobre o percurso artístico de Grace Jones. O anúncio foi feito esta sexta-feira pela The Simon & Schuster, que editará The Age Of Bowie na sua chancela Gallery Books.

"No dia em que foi anunciado que David Bowie morreu, antes de ter tempo qualquer tempo para reflectir, perguntaram-me mil vezes o que pensava. E o que pensei verdadeiramente foi que seria necessário um livro para ajudar a sistematizar na totalidade tudo o que David Bowie significava para mim, para a música e cultura popular e para o mundo que mudou por causa dele. Depois, pensei que precisava de escrever esse livro", escreveu em comunicado Morley, um dos especialistas na obra do cantor que contribuiram para a montagem da exposição David Bowie Is, inaugurada no Victoria & Albert Museum, em Londres, em 2013, e que, depois ser levada aos quatro cantos do mundo, chegou em Dezembro ao seu destino final, a cidade holandesa de Groningen.

The Age of Bowie contará a história da ascensão e do impacto causado por Bowie ao longo de quatro décadas e debruçar-se-á com especial detalhe sobre o seu último ano de vida, durante o qual preparou o musical Lazarus e gravou Blackstar, álbum a que, já doente, se entregou com o entusiasmo pela descoberta e com a procura do novo que são marca de todo o seu percurso.

Tony Visconti recorda num depoimento da última edição da revista Mojo como Bowie o abordou para discutir o convite à banda do saxofonista Donny McCaslin para a gravação do álbum. "Ele estava sempre a desafiar-se", recordou Visconti, citando de seguida as palavras do amigo: "'Tony, tens que os estudar. Eles estão muito acima de nós!" - disse-o, aos 68 anos, falando sobre uma banda de "miúdos" quarentões, uma das figuras mais reverenciadas e influentes na história música popular urbana.

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