Venda da Corbis à China cria receios sobre emblemática colecção de fotografia

Envolvidos no negócio asseguram que imagens como as dos protestos de Tiananmen vão continuar disponíveis como até agora.

Foto
Fotografia da repressão de 1989 está também nos arquivos da Reuters Reuters

Bill Gates vendeu a Corbis, detentora de um dos maiores arquivos de fotografia do mundo, à Visual China Group (VCG) e com o negócio milionário transitaram para a companhia chinesa alguma das mais emblemáticas imagens do século XX. A venda fez franzir muitos sobrolhos, tanto mais que entre o enorme espólio se encontram algumas das raras fotografias que testemunham o massacre da Praça de Tiananmen, que Pequim nunca permitiu que fossem vistas no país.

“E se a VCG, sendo o novo dono dessas imagens que pertenciam à Corbis, decidir que algumas delas não são apropriadas para ser vendidas a ninguém no mundo?”, questionava-se Christoph Rehage, escritor e artista plástico com vários trabalhos sobre a cultura chinesa, ouvido pela CNN. Um receio que, diz Xiao Qiang, fundador de um grupo que monitoriza a censura na China, não é descabido. “Ninguém se deveria surpreender se as decisões e as acções de uma empresa chinesa se alinharem com as políticas e as práticas do governo chinês”, disse Xiao ao New York Times.

Os envolvidos no negócio – cujo montante não foi revelado – garantem, no entanto, que os receios são infundados e que as cem milhões de fotografias e os mais e 800 mil vídeos que integram a colecção da Corbis vão continuar disponíveis, ainda que possam ser censuradas na China. Numa resposta enviada por email ao jornal norte-americano, a VCG, que é já o maior distribuidor de fotografias online na China, diz-se “totalmente empenhada em ser um bom guardião” do espólio que adquiriu. E à CNN, um porta-voz da Corbis afirmou que no negócio “foi cuidadosamente ponderada a futura guarda das imagens”.

Em paralelo com a aquisição da Corbis, a empresa chinesa assinou uma parceria com a Getty Images, principal rival da empresa fundada por Gates, que ficará responsável pela distribuição e licenciamento das imagens fora da China. O site especializado em fotografia digital PetaPixel adianta que nos próximos meses todo o espólio da Corbis será migrado para a Getty, criando um arquivo online com mais de 200 milhões de imagens.

Ouvido pelo New York Times, Craig Peters, vice-presidente da Getty, assegurou que a VCG não terá qualquer palavra a dizer naquilo que a sua empresa “produz, representa ou disponibiliza nos mercados onde trabalha”. “O nosso nível de decisão editorial e de integradide está 100% intacto”, afirmou. O responsável sublinha ainda que muitas das imagens existentes no arquivo são propriedade de fotógrafos particulares ou de agências de notícias e a Corbis (tal como a Getty) gere apenas o seu licenciamento. “A Corbis paga os direitos ao autor. E quando um contrato expira o seu proprietário pode retirá-las do banco de imagens”, assegurou um porta-voz.

O jornal norte-americano sublinha ainda que um dos ícones da repressão de 1989 – mostrando um homem enfrentando sozinho uma coluna de tanques na praça de Tiananmen – existe nos arquivos da Corbis, mas a versão mais difundida é a que pertence à agência Reuters.

Criada no mesmo ano dos protestos, a Corbis foi lançada pelo fundador da Microsoft para disponibilizar imagens para os ecrãs interactivos que ele que acreditava viriam a ser usados nas empresas, escolas e residências. Essa visão não se concretizou, mas a Corbis foi adquirindo colecções, incluindo o famoso arquivo da antiga agência Sygma, e detém fotografias que são parte do espólio da humanidade, como a da saia esvoaçante de Marilyn Monroe, a da explosão do dirigível alemão Hindenburg, em 1937, ou a que mostra Albert Einstein de língua de fora.

 

 

 

Sugerir correcção
Ler 5 comentários