Agressões em Colónia foram rastilho para reacender polémica sobre refugiados

Angela Merkel recusa pressão para impor limite ao número de entradas no país, mas admite rever política de deportação para "enviar sinal forte" a quem não cumpre a lei.

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A polícia de Colónia anunciou ter identificado 16 suspeitos de envolvimento nos ataques da véspera de Ano Novo Wolfgang Rattay/Reuters

Uma e outra vez, Angela Merkel repete que não vai ceder à pressão para adoptar um limite máximo à entrada de refugiados na Alemanha. Mas as agressões, incluindo sexuais, de que foram vítimas mais de cem mulheres na noite de passagem de Ano em Colónia incendiaram ainda mais o debate sobre a política de asilo da chanceler alemã, numa tempestade que envolve também a polícia e a comunicação social.

O que começou por ser um caso de polícia, ganhou dimensão de escândalo à medida que as denúncias se avolumaram nas esquadras e a imprensa foi deixando cair as reticências iniciais a noticiar as agressões, cometidas por centenas de homens de “aparência norte-africana ou árabe”, concentrados na praça frente à estação central da cidade. Até esta quinta-feira, foram recebidas 121 queixas, um terço das quais “delitos de carácter sexual”, revelou a polícia local, adiantando ter identificado 16 suspeitos, “a grande maioria oriundos do Norte de África”, sem revelar nacionalidades nem o seu estatuto no país.

A primeira resposta do Governo foi apontar o dedo às forças de segurança – Merkel considerou “intolerável” que tantas mulheres tenham ficado indefesas perante a multidão de agressores e o ministro do Interior, Thomas de Maizière, criticou duramente a polícia local, tanto pela inacção dos agentes perante o caos instalado na praça, como por ter descrito como “pacífica” a passagem de ano na cidade.

Mas com o país dividido sobre o acolhimento aos refugiados – 1,1 milhões de pessoas em 2015, segundo a estatística oficial divulgados quarta-feira –, as agressões foram o rastilho que voltou a incendiar o debate. Tanto mais que na comunicação social, acusada de inicialmente ter fechado os olhos à notícia por receio de fomentar sentimentos xenófobos, se multiplicam agora informações (quase sempre atribuídas a fontes anónimas) de que entre os atacantes havia sírios e afegãos recém-chegados ao país.

“A violência da véspera de Ano Novo é o primeiro resultado da perigosa mistura de imigração descontrolada, um indesculpável fracasso do governo e interferência política”, reagiu o partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD), principal beneficiário da queda nas sondagens de Merkel e dos democratas-cristãos. Horst Seehofer, líder dos conservadores na Baviera (CSU) e o mais crítico da política de asilo dentro da coligação governamental, aproveitou a comoção geral para propor que o país acolha “no máximo 200 mil refugiados” por ano, acrescentando que “limitar o número de imigrantes deve ser o principal objectivo do governo em 2016”.

Quarta-feira à noite, à entrada para a conferência da CSU, Merkel voltou a bater o pé ao aliado. “Há posições divergentes” sobre esta matéria e “provavelmente não haverá mudanças nas discussões de hoje”, afirmou. A líder alemã garante estar empenhada em reduzir o fluxo de entradas no país, mas entende que a gestão deve ser feita a nível europeu, seja conseguindo que a Turquia cumpra as promessas de cooperação, seja convencendo os parceiros europeus a aceitarem um sistema de redistribuição dos refugiados.

Mas mesmo na coligação é notória a convicção de que os incidentes de Colónia exigem uma resposta dura. Maizière avisou que “quem comete infracções graves deve ser expulso da Alemanha” e o ministro da Justiça, Heiko Mass, admitiu que candidatos a asilo podem ser deportados se ficar provado que algum deles participou nas agressões. A actual lei só prevê expulsão do país para quem for condenado a pelo menos três anos de prisão, mas já nesta quinta-feira Merkel admitiu rever a legislação para “enviar um claro sinal a quem não quer respeitar as leis”.

<b>Corrigido nome do partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD)</b>

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