Mais um Inverno

A verdade bendita é que não sabemos que Inverno é que este Inverno vai ser.

Com o frio vem a luz antiga. O solstício do Inverno passou e o sol começa a levantar-se cada vez mais do horizonte. O nosso Outono foi coisa pouca: caíram algumas folhas mas à volta tudo é verde de mais para a melancolia.

O sol ilumina sem aquecer: é outra mentira importada dos países mais a Norte a quem compramos e traduzimos livros. O Inverno em Portugal é a estação da diferença do dia para a noite.

Parece haver mais estrelas no céu e todas estão mais nítidas. Por estar frio não nos demoramos a olhar para elas mas vê-las de relance, como uma beleza fugidia, enche-nos de culpa deslumbrada.

Não há azuis-escuros mas os claros são tantos que são impossíveis de contar. As nuvens passam altas, sem convicção nem vaidade.

Sabemos que o Inverno guarda tempestades e chuvadas, trovões e arrepios. Mas continuam a surpreender quando acontecem e sempre que dizem "de que é que estava à espera? É o Inverno, que diabo!" sentimo-nos atingidos, como se nos tivessem beliscado os olhos.

A verdade bendita é que não sabemos que Inverno é que este Inverno vai ser. Tristes são os países em que os climas são certezas e que estas coisas não se podem discutir, porque todos os habitantes está condenados a concordar uns com os outros, vestidos com a mesma roupa especializada, comparando apenas os cores dos anoraq ues.

Prevejo que o IPMA vá infalivelmente informar-nos que os valores deste Inverno estarão acima ou abaixo da média. Ainda bem que assim será.

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