Maldito substantivo que inventámos

Podíamos ter escolhido “terror” ou “horror” como Palavra da Semana, mas “guerra” pressupõe tudo isso, seja ela inesperada ou planeada. Assim fala o dicionário, quando descodifica esse maldito substantivo feminino singular que a humanidade inventou, recriou, sofisticou e legitimou em cada momento de acordo com os seus interesses: “Conflito armado entre duas ou mais nações ou entre grupos partidários de uma mesma nação, com o fim de impor supremacia política ou de assegurar interesses materiais ou ideológicos.”

Depois dos ataques de 13 de Novembro em Paris, a palavra “guerra” tem vindo a repetir-se todos os dias. A ela se juntam “tiros”, “bombardeamentos”, “mortos”, “atentados”, “bombistas”, “ataques”.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, voltou a dizer: “Nós estamos em guerra.” Quando diz “nós”, sabemos bem a quem se refere. Descreveu ainda o tipo de “conflito” que agora se vive: “Esta não é uma guerra tradicional, mas uma nova guerra onde o terror é a primeira e única arma.”

Bastante espaço ocupam as explicações dos dicionários para “guerra”. E registam tantas formas desta “disputa”, “luta”, “perseguição sanguinária”. Eis algumas: “guerra civil”, “colonial”, “bacteriológica”, “aberta”, “santa”. Há ainda a expressão: “Na guerra como na guerra.” Traduz-se assim: “Fórmula de resignação ou de cinismo com que se aceitam ou se pretendem justificar excessos, abusos, violências praticados em guerra ou até em outras circunstâncias.”

Só se encontrou uma definição que se possa dizer pacífica: “Jogo de bilhar entre três jogadores.”     

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