Câmara quer transformar Sete Rios numa das "mais marcantes" praças de Lisboa

O município pretende concentrar o estacionamento e a circulação rodoviária junto ao viaduto do Eixo Norte-Sul e criar, em frente ao Jardim Zoológico, uma praça pedonal com dois hectares. "Quase metade do espaço deixa de ter automóveis", constata o arquitecto autor do projecto.

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Na apresentação, alguns moradores mostraram-se preocupados com o impacto do projecto na circulação rodoviária DR

A Praça Marechal Humberto Delgado, mais conhecida como Sete Rios, vai sofrer uma transformação radical, que a Câmara de Lisboa prevê que esteja concluída em Junho de 2017. A ideia é que todo o estacionamento e circulação rodoviária passem a concentrar-se na frente junto ao viaduto do Eixo Norte-Sul, libertando-se assim o espaço fronteiro ao Jardim Zoológico de Lisboa para aí criar uma ampla praça pedonal.

A proposta da câmara foi apresentada numa sessão promovida pela Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica, na quinta-feira. Na ocasião, o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, defendeu que quando a intervenção estiver concluída Sete Rios “vai ser uma das praças mais marcantes da cidade”.

“É uma das maiores requalificações de que há memória na nossa freguesia”, disse por sua vez o presidente da junta. “Esta praça de facto merecia esta intervenção”, avaliou António Cardoso, que acredita que a requalificação que o município se prepara para concretizar “vai representar um salto qualitativo mesmo muito grande”, em termos de acessibilidade, reordenamento do trânsito, mobiliário urbano, segurança e lazer.

Na apresentação do projecto, Manuel Salgado sublinhou que está em causa “uma praça sui generis”, que “não tem muitos residentes à volta”, mas que funciona como “um nó de transportes e de mobilidade muito importante na cidade”. Além disso, lembrou, é aqui que se localiza o Jardim Zoológico de Lisboa, “um equipamento absolutamente chave e único”.

Segundo o director do Departamento de Projectos Urbanos da câmara, Pedro Dinis, entre os objectivos que se pretende alcançar com esta intervenção estão a integração do viaduto do Eixo Norte-Sul, o reordenamento do estacionamento, a criação de “uma grande praça urbana que possa ser um forte ponto de confluência social”, a requalificação da interface de transportes públicos existente e a promoção da sustentabilidade, através da criação de uma zona verde.

Foi ao arquitecto Camilo Cortesão que coube encontrar uma solução que corporizasse todos esses objectivos. “A nossa proposta é quase óbvia”, começou por dizer, explicando que aquilo que no essencial se propõe é “concentrar o rodoviário no que já o é, que é o espaço por baixo do viaduto, e libertar a zona a norte”, tornando-a “mais permeável, mais verde, mais dedicada aos peões”.  

Na prática, é quase como se a área de Sete Rios fosse partida em dois: todo o estacionamento à superfície e a circulação rodoviária, tanto dos transportes individuais como dos públicos, são deslocados para uma das suas extremidades, ficando o espaço restante por conta dos peões. “Quase metade do espaço deixa de ter automóveis à superfície”, constatou Camilo Cortesão, frisando que “a zona dedicada aos peões é muito mais significativa do que a que existia”.

Para que isso seja possível, o arquitecto admitiu que será necessário “diminuir o estacionamento à superfície”, “racionalizar o modo como funcionam os transportes públicos” e também “reduzir as faixas para os transportes privados”, tornando-as “mais estreitas”. Este projecto prevê também que o terminal das carreiras suburbanas que hoje funciona na Praça de Espanha seja deslocalizado para Sete Rios, mais precisamente para debaixo do viaduto do Eixo Norte-Sul, onde existem hoje lugares de estacionamento.

A quem assistiu à sessão, Camilo Cortesão deixou a garantia de que os transportes públicos, sobre os quais foi feito um estudo “carreira por carreira”, não serão “prejudicados” com as alterações propostas. A esse respeito, o arquitecto acrescentou mesmo que aquilo que se pretende é que “as coisas funcionem melhor”, sendo para tal feita uma aposta na “intermodalidade”, que passa por exemplo pela abertura de três novos acessos ao metro.

Quanto à nova praça pedonal, que terá cerca de dois hectares, Camilo Cortesão disse a sua dimensão permitirá que num espaço que é hoje “um pouco inóspito” passem a realizar-se “feiras, espectáculos e encontros cívicos”. Na zona central, adiantou, haverá “um elemento de água”, e a construção designada como Pavilhão Keil do Amaral será “recuperada”.

Questionada sobre essa construção, a câmara precisou ao PÚBLICO que ela “nasceu com a Estação de Metro de Sete Rios, e fazia o interface directo e coberto do metro para uma estação de eléctricos que existia ali”. “É uma construção de betão e alvenaria, com duas magníficas palas. O edifício deverá ser recuperado e reabilitado para uma função ainda não definida, mas certamente de apoio à vivência pedonal da Praça”, acrescentou a autarquia por escrito.

Na sessão de quinta-feira, Pedro Dinis adiantou que as obras, inseridas no programa camarário Uma Praça em Cada Bairro, devem ter início “no primeiro trimestre de 2016”, prolongando-se por todo esse ano. Mas o conjunto da intervenção na praça, acrescentou, só deverá estar concluído “em Junho de 2017”, dado que é essa a data em que a empresa Empark espera finalizar a construção em Sete Rios de um parque de estacionamento subterrâneo com 350 lugares.

Vários residentes de São Domingos de Benfica marcaram presença nesta apresentação, na qual aproveitaram para defender a necessidade de se dar resposta a problemas já hoje existentes, como a falta de estacionamento para residentes, as longas filas provocadas pelos utilizadores do terminal da Rede Nacional de Expressos, a falta de barreiras acústicas no Eixo Norte-Sul ou a situação precária dos edifícios existentes na confluência da Estrada de Benfica com a Rua de Campolide.  

Em relação ao novo projecto, foram várias as pessoas a mostrar-se preocupadas com o impacto que ele poderá ter na circulação automóvel. Uma delas foi uma moradora da zona, que não se identificou e que foi fazendo comentários para o lado durante toda a sessão. “E eu, vou para casa de avião?”, perguntou a dada altura, acrescentando depois que “anda de carro quem quer”. “Não são eles que decidem se eu ando de carro ou de transportes”, rematou.

Mais tarde, perto do fim da reunião, a senhora elevou a voz, permitindo que todos os oradores e a audiência ficassem a par daquele que é o seu pensamento sobre a proposta da câmara: “Eu prefiro ter mais espaço para o meu carro passar do que ter zonas verdes”, disparou. A resposta chegou já depois de os trabalhos terem sido encerrados, quando uma outra moradora da freguesia pediu a palavra: “Eu represento os que andam de transportes públicos e não estou sozinha”, apresentou-se, anunciando que ficou “muito contente” por ver aquilo em que Sete Rios se vai transformar. 

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