Há 8500 anos os humanos já usavam produtos apícolas

Vestígios de cera de abelha em potes pré-históricos revelam uso antigo de produtos das abelhas no Médio Oriente, no Norte de África e na Europa.

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O mel seria um raro adoçante na pré-história Adrees Latif/Reuters (arquivo)

Os murais pintados durante o vibrante Império Novo do Antigo Egipto mostram abelhas e mel no meio de cenas quotidianas de há 4400 anos, provando que naquela altura o uso humano de produtos apícolas estava bem estabelecido. Mas os humanos utilizam estes produtos há muito mais tempo: uma equipa de cientistas descobriu vestígios de cera de abelha em cerâmica fabricada por populações pertencentes às primeiras culturas agrícolas na Europa, no Médio Oriente e no Norte de África. Os vestígios mais antigos encontram-se num sítio arqueológico de há cerca de 8500 anos, no Leste da Turquia.

“As marcas químicas distintivas de cera de abelha foram detectadas em vários locais do Neolítico em toda a Europa, indicando o quão espalhada estava esta associação entre humanos e abelhas”, diz a geoquímica orgânica Mélanie Roffet-Salque, da Universidade de Bristol, no Reino Unido. A cera de abelha estava presente na cerâmica porque estas pessoas ou estavam a usar mel, que tem vestígios da cera, ou cobriam com cera o fundo dos potes para estes se tornassem impermeáveis, explica a cientista.

“Torna-se evidente que as pessoas da idade da pedra conheciam muito bem o ambiente que as rodeava e estavam a explorar vários recursos naturais como a cera das abelhas, mas também resinas e alcatrões de árvores”, acrescenta a investigadora, entre os autores do estudo publicado esta semana na revista científica Nature.

A razão mais óbvia para se utilizar as abelhas é para o mel, “um adoçante raro para as populações pré-históricas”, refere Mélanie Roffet-Salque. “No entanto, a cera de abelha podia ter sido usada para vários fins tecnológicos, ritualísticos, cosméticos ou medicinais. Para, por exemplo, tornar impermeável os vasos de cerâmica porosos ou para amolecer o alcatrão de bétula para fazer cola.”

Segundo os cientistas, não foi possível detectar directamente mel porque este é maioritariamente composto por açúcares que não sobrevivem à passagem dos milénios. “Detectar a cera de abelha permite-nos dizer que os primeiros agricultores estavam a explorar os produtos das abelhas: cera de abelha e mel”, diz Mélanie Roffet-Salque. Os antigos murais egípcios, a arte pré-histórica existente nas pedras e outras provas já nos tinham mostrado que o uso de mel pela humanidade tem milhares de anos, mas a idade exacta do início deste uso e a sua geografia mantinham-se incertas até agora.

Os investigadores examinaram compostos químicos que ficaram presos no barro de mais de 6000 mil cacos espalhados por 150 sítios arqueológicos. Em 38 destes locais – com idades entre 8500 e 4000 anos –, encontraram vestígios de cera de abelha.

A cerâmica analisada a latitudes mais a norte, na Escócia ou na Escandinávia, não tinha vestígios de cera de abelha. Isto sugere que as abelhas não viviam naqueles locais, talvez porque naquela altura o clima fosse mais agreste nas latitudes mais a norte, defende por seu lado Richard Evershed, biogeoquímico da Universidade de Bristol, também autor do trabalho.

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