Segredos e mentiras

A violência e a miséria emocionais por trás das fachadas domésticas – O Lobo Atrás da Porta não é “telenovela”, mas a mise-en-scène tem a indistinção de telefilme.

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A violência passional que emerge em O Lobo Atrás da Porta não chega para despertar um filme anestesiado, sem chama nem força DR

Um filme brasileiro de 2013, com um argumento bem mais ambicioso do que a sua concretização filmada. O que começa como um caso policial – o desaparecimento de uma miúda – transforma-se a pouco e pouco num inquérito à vida pessoal de um trio de protagonistas, revelando segredos e mentiras, mas sobretudo a violência e a miséria emocionais do outro lado das fachadas domésticas.

A lógica (que tem algo de noir clássico) e o tema (que pode ser significativo como olhar sobre a classe média brasileira contemporânea) pediam outro engenho na realização. Não é “telenovela” (e de certo modo, é contra o mundo da telenovela), mas a mise-en-scène tem aquela indistinção de telefilme que tende aplanar tudo em vez de relevar – as personagens, por exemplo, tratadas em modo mais “apagado” do que o que se imagina que seria a pretensão. Alguns momentos em que a violência passional emerge, contraditoriamente fria, não chegam para despertar um filme rapidamente anestesiado pela preponderância convencional do diálogo filmado em campo/contracampo, sem chama nem força.

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