Como a mais nova deputada laranja chegou à militância por "culpa" do PCP

A família “maioritariamente socialista” não lhe mudou as convicções. Aos 15 anos, inscreveu-se na JSD. Aos 26, vai assumir o lugar de deputada — e de "benjamim" na bancada social-democrata. Margarida Balseiro Lopes quer ver os partidos mais próximos dos jovens

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Margarida atribui o “preconceito” em relação às juventudes partidárias aos “maus exemplos” existentes Bruno Lisita

Nas frequentes discussões sobre o estado do país feitas nas aulas de francês do 10º ano, Margarida Balseiro Lopes protagonizava com uma colega de turma, filiada na Juventude Comunista Portuguesa, os duelos mais acirrados. Política, sociedade, economia: não havia um tema em que se entendessem. Um dia, entre argumentos díspares, a colega dispara:

— Oh Margarida, tu estavas bem é na JSD!

O desafio não a levou imediatamente à sede da Juventude Social Democrata (JSD) na Marinha Grande, onde nasceu e estudava, mas foi o suficiente para ir espreitar o que defendiam, afinal, os sociais democratas. “Já conhecia alguns valores e, ao ler, percebi imediatamente que me enquadrava e decidi inscrever-me”, contou ao P3. Uma década depois, aos 26 anos, vai assumir pela primeira vez o lugar de deputada. Entre os estreantes, será a mais nova da bancada do PSD — e a segunda mais nova do Parlamento.

O “título” de benjamim não lhe diz muito (“não me tornará nem mais nem menos apta”), mas a “nova geração de políticos” em que se integra, sim: “Há, nos vários partidos, pessoas muito qualificadas que podem dar um contributo importante para mudar as coisas”, acredita. Margarida Balseiro Lopes, vinda de uma família “maioritariamente socialista”, é da geração Millenium — e isso não é motivo de vergonha, mesmo quando o assunto é política. A geração dela, como as outras, “interessa-se por causas eminentemente políticas” (como "a questão dos refugiados") e, por isso, dizer que está afastada da política é incorrecto: o “desencanto”, diz, é dirigido aos partidos e ao sistema partidário. “E com alguma razão.”

Palavra de quem, “com orgulho”, se formou para a política no interior de uma juventude partidária e cedo percebeu os meandros do meio. Mensagem para os jovens: independentemente do nível de desencanto, não deixem de exercer o direito de voto. Recado para os partidos: são sobretudo vocês que têm de fazer um esforço de aproximação: “Mudar a forma de funcionamento, estar mais vezes com a sociedade civil, sair das sedes e mostrar que os políticos não são todos iguais.”

No Parlamento, a líder da JSD distrital de Leiria e secretária-geral dos jovens sociais-democratas a nível nacional não sabe ainda de que comissões fará parte. Interessa-lhe “tudo o que seja relacionado com a juventude” — emprego e desemprego, precariedade, ensino superior, emigração. Temas que conhece bem, pela experiência de amigos e até do irmão, emigrado em Moçambique há três anos e meio. “Sei bem o que é ver alguém emigrar para procurar novas e melhores condições de vida”, conta. O panorama é um “flagelo”, sobretudo quando o cenário de regresso “nem no horizonte” surge — "A única coisa que separa os diferentes partidos nesta questão é o facto de termos leituras diferentes das razões que levaram tantos jovens a saírem e das soluções que os podem fazer regressar."

Não é o Estado quem tem de criar emprego

E que justificações existem, então, para a actual situação? A recessão dos últimos anos, o endividamento do país, um ensino superior desajustado, enumera. A deputada eleita pelo círculo de Leiria, licenciada em Direito pela Universidade de Lisboa, acredita que deve agora ser dada “prioridade máxima” ao crescimento económico, criando condições para que as empresas criem emprego: “O Estado pode tomar medidas para tentar reduzir o desemprego jovem, mas não é ele quem vai criar emprego. Se calhar o Partido Comunista achará isso, mas hoje em dia tanto PS como PSD defendem que devem ser os agentes económicos privados a fazê-lo.”

O actual processo de formação do Governo é para a jovem de 26 anos "lamentável" e só contribuirá para afastar mais portugueses do sistema político-partidário. "Vivemos quatro anos muito difíceis, mas há sinais de mudanças que podem, por exemplo, permitir a muitos jovens que emigraram regressar. É com as reformas feitas que as coisas podem mudar", acredita.

A independência é para Margarida Balseiro Lopes um estandarte. Foi também por isso que fez questão de estudar — depois da licenciatura fez ainda um mestrado em Gestão e Direito — e de ter um emprego para lá da vida política. Nos próximos anos vai gozar de uma licença na empresa multinacional de auditoria e consultoria onde trabalha há três anos. Depois pretende regressar. “O que acontece muitas vezes é que crescendo apenas dentro da política e não tendo carreira profissional somos obrigados a dizer sim mais vezes do que desejaríamos. Quero ter sempre forma de dizer não.”

O espírito crítico, diz, foi algo que também ganhou na JSD. “Somos autónomos do PSD e, acima de tudo, não assimilamos de forma acéfala”, diz a mais nova deputada entre os estreantes do PSD (no PS, o "dístico" de benjamim vai para João Torres, de 29 anos, e no Bloco de Esquerda para Luís Monteiro, o mais novo de todo o hemiciclo, com 22 anos). Foi o que aconteceu, por exemplo, quando discordaram da norma que previa a retirada da bolsa a estudantes cuja família tivesse dívidas. Margarida atribui o “preconceito” em relação às juventudes partidárias aos “maus exemplos” existentes. Mas não o aceita como caso encerrado: “Há também bons exemplos. No meu caso, pertencer a uma juventude partidária preparou-me para o mercado de trabalho. Sinto que tenho uma maturidade mais elevada e vejo a JSD como uma escola de vida.”

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