“Casas melhores” ajudam a mudar vidas em Estarreja

Projecto promovido pela câmara já ajudou dezenas de famílias. Este ano, terá nova edição, mantendo o objectivo de sempre: recuperar as casas de pessoas que estejam em situação de vulnerabilidade sócio-económica.

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Diogo Baptista
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Júlia Cardoso e Fernando Pinto confessam-se eternamente agradecidos pelas obras que a câmara de Estarreja fez, em 2008, na casa onde habitam com os dois filhos, actualmente com 15 e 9 anos de idade. Júlia tem uma deficiência motora grave (desloca-se de cadeira de rodas), Fernando é deficiente visual (incapacidade de 95%) e reconhecem que “só com o subsídio” que recebem mensalmente dificilmente teriam condições para fazer as obras de que a casa necessitava. “A casa de banho não era adaptada a mim e não tinha rampas de acesso à entrada da casa. E as paredes e os tectos também estavam a precisar de arranjo”, retrata Júlia Cardoso, a propósito daquelas que eram as condições habitacionais da sua família antes de serem abrangidos pelo projecto “Casa Melhor” - um programa que entra, agora, na sua 13.ª edição (as candidaturas estão abertas até ao final do mês) e que já apoiou um total de 164 famílias estarrejenses. “Quando tive a menina, até tinha vergonha quando as pessoas vinham visitar-nos pois as paredes do quarto estavam todas cheias de humidade”, testemunha ainda Júlia Cardoso.

“De há 13 anos para cá, já investimos 700 mil euros neste projecto, dando melhores condições de habitabilidade a pessoas ou famílias carenciadas”, contabiliza Diamantino Sabina, presidente da câmara estarrejense. O autarca não tem dúvidas em afirmar que este programa resulta melhor do que investir em novos bairros ou edifícios de habitação social. “Criar guetos é coisa com a qual não concordamos”, afirma o edil. “A nossa aposta passa, antes, por dar condições para que as pessoas se mantenham nos seus meios, nas suas freguesias”, acrescenta Diamantino Sabina, ao mesmo tempo que nota que além do “Casa Melhor” a edilidade tem também em curso o projecto “Habitação nas Freguesias” - neste caso, os apoios são delegados nas juntas de freguesia.

No caso específico do “Casa Melhor”, o apoio financeiro atribuído pela autarquia pode ter um valor máximo de 4000 euros, sendo que, por força dos apelos que são lançados junto de várias empresas da região, muitas vezes esse montante dá para fazer verdadeiros milagres. “Tentamos fazer mais obra, com menos dinheiro, pedindo ou reaproveitando materiais”, testemunha Paula Leitão, arquitecta da câmara, responsável pelos projectos de reabilitação das casas. “É um desafio grande, mas é fantástico ver a transformação que conseguimos fazer”, acrescenta a mesma técnica.

Muitas das obras que têm vindo a ser feitas pelo “Casa Melhor” prendem-se com a construção de casas de banho. “Ainda vamos encontrado habitações sem casas de banho, com aquelas estruturas antigas nos quintais”, ilustra Filomena Serrano, assistente social que acompanha o projecto. “E também casas sem electricidade e sem água canalizada”, acrescenta Paula Leitão, para que se perceba do que fala quando diz que o desafio é “grande”.

Nestes mais de dez anos de trabalho no terreno, a equipa camarária também já encontrou casas com as paredes cheias de humidade, sem tectos (apenas com os telhados) e com o piso em terra batida. Era o caso da habitação de Laurentina Rodrigues, de 76 anos, viúva, que recebeu o apoio do “Casa Melhor” em 2010. “Já nem me lembro muito bem como era a casa, mas ficou melhor”, confessa ao PÚBLICO esta habitante de Fermelã. “Foi uma ajuda boa que me deram”, acrescenta, depois de recordar que a intervenção lhe permitiu, também, passar a dispor de casa de banho – além de cozinha e quarto devidamente pavimentados e arranjados. “Agora queria era que me arranjassem ali mais aquele quartinho ao lado”, atira Laurentina Rodrigues. As técnicas da câmara de Estarreja avisam que “ainda há outras famílias para ajudar” e que o objectivo do projecto, no seu caso, já está cumprido – a casa de Laurentina já está dotada de condições mínimas de salubridade, conforto e segurança.

Programa acompanha as famílias após as obras
O trabalho do projecto “Casa Melhor” vai muito para além da análise e selecção das candidaturas que chegam, anualmente, à autarquia – na certeza de que também há situações que são detectadas pelos próprios serviços camarários – e consequente realização das obras nas habitações. Segundo sublinha Rosa Simão, vereadora responsável pelo pelouro da Acção Social, “as famílias e pessoas abrangidas pelo programa são acompanhadas pela equipa camarária “, sendo, por exemplo, “sensibilizadas para fazerem a limpeza e manutenção da habitação”. “A maior parte dos casos que tivemos têm tido sucesso, as pessoas mantém as suas casas limpinhas, mas nem sempre é assim”, admite a vereadora da Acção Social.

Júlia Cardoso e Fernando Pinto estão, sem sombra de dúvida, entre os casos de sucesso, não obstante as suas incapacidades. “E somos nós os dois que limpamos, com a ajuda dos meninos”, relata Júlia, ao mesmo tempo que assegura que, apesar de ter de se deslocar numa cadeira de rodas, não se dá “parada”. “Não me impede de tratar do quintal. Ainda no outro dia andei a tratar das couves, de gatas”, afiança, sem nunca perder o sorriso. “Temos de nos desenrascar”, remata.

Programas idênticos noutros municípios
Viseu, Porto, Famalicão, Ílhavo, Fafe e Trancoso são apenas mais alguns exemplos de municípios que também têm vindo a seguir programas idênticos. Em Famalicão, por exemplo, o projecto “Casa Feliz” já ajudou 155 famílias de poucos recursos a fazer obras em casa. Também no Norte, mais concretamente em Fafe, a atribuição deste tipo de apoio já remonta a 1998 e beneficiou cerca de 500 famílias.

No Porto, e no âmbito de uma parceria entre a Fundação Manuel António da Mota (Grupo Mota-Engil) e a Câmara Municipal do Porto, tem vindo a ser implementado, desde 2009, o projecto “Porto Amigo”, que tem como finalidade a realização de obras de adaptação em habitações de idosos com mobilidade reduzida e em situação de pobreza comprovada. Já em Ílhavo, este tipo de apoio é dado ao abrigo do Fundo Municipal de Apoio a Famílias e Indivíduos Carenciados.

Outro exemplo, acaba de ser dado pela Câmara de Santa Marta de Penaguião, que anunciou, recentemente, que vai ajudar 18 famílias carenciadas a recuperar as casas degradadas – uma medida que vai ser concretizada até ao final do ano.

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