Justificações da Águas do Porto não calam protesto contra poluição no Douro

Pescadores e empresa que faz ligação entre as duas margens criticam descarga poluente em Lordelo do Ouro.

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Transeuntes e turistas foram congrontados com a pouluição no rio e um cheiro nauseabundo Diogo Baptista

A descarga, no Rio Douro, na Ribeira, em Massarelos e junto ao Cais do ouro, em Lordelo do Ouro, de milhares de metros cúbicos de águas residuais não tratadas, ao longo de 28 horas consecutivas, originou protestos de pescadores e da empresa responsável pelo transporte fluvial entre as duas margens. Centenas de turistas e os transeuntes foram confrontados com o episódio de poluição que para a qual a empresa Águas do Douro deu uma justificação técnica que não convenceu os queixosos.

Segundo fonte da empresa municipal Águas do Douro, “as descargas decorreram no âmbito da reabilitação do interceptor Douro Marginal (tubagem que conduz o esgoto da cidade do Porto para as ETAR). Foi necessária a rejeição temporária de efluente bruto para a substituição de peças degradadas”, escrevia a empresa em resposta a questões do PÚBLICO, esta quarta-feira à tarde.

Nessa mesma nota, o gabinete de imprensa da Águas do Porto garantia que “não há qualquer alternativa a este procedimento, o qual se encontra devidamente licenciado pela entidade responsável do Ministério do Ambiente", e insiste que já procedeu ao fecho das descargas. “Faremos todos os esforços para que não seja necessário voltar a abri-las. Contudo, a acontecer, será no decorrer da próxima semana”, admite, corroborando uma informação prestada aos pescadores que operam no local, junto ao cais de acostagem da motora Flor do Gás.

A proprietária desta embarcação que faz a carreira entre as duas margens do Douro mostrou-se indignada com o episódio. “Os salpicos dos esgotos, que saíam com grande pressão, na terça-feira, chegavam a atingir os nossos clientes. O cheiro era nauseabundo. Isto foi muito mau para a imagem da cidade, que está em alta”, assinala Isabel Cardoso, explicando que a Flor do Gás transporta diariamente, mesmo nesta época do ano, cerca de 400 turistas de várias nacionalidades, alguns dos quais chegaram a gravar imagens deste episódio.

Para a Associação de Pescadores Profissionais e Lúdicos de Lordelo do Ouro, entidade que está a ser legalmente constituída, tratou-se de um “grave atentado ambiental do estuário do rio Douro”, que começou pelas 8h de terça-feira, em vários pontos, um deles a dez metros a montante das suas embarcações.  Os pescadores contactaram a Policia Marítima, “que deslocou rapidamente uma embarcação ao local”, a presidente da junta da União de freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, e os próprios Serviços de Águas do Porto, a alertar para a ocorrência que foi ainda comunicada ao Serviço de Protecção da Natureza da GNR.

A agência Portuguesa do Ambiente, garante a Águas do Porto, foi alertada para a operação mas as restantes entidades desconheciam-na, garantem os pescadores e a proprietária da Flor do Gás. Apesar das explicações que obtiveram, os pescadores exigem saber quem vai ser responsabilizado pela poluição provocada e exigem saber se vai ser feito um levantamento dos efeitos desta descarga no leito do estuário, onde costumam pescar solha e linguado com redes de fundo. E temendo que, por causa deste situação “de extrema gravidade”, seja preciso interditar temporariamente a pesca, a associação exige saber quem pagará os prejuízos.  

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