É expectável que a abstenção em 4 de Outubro aumente face à de 2011?

No século XXI em Portugal, houve apenas uma eleição em que a abstenção diminuiu: tratou-se da eleição de 2005 – ano da primeira e única maioria absoluta do PS.

Há uma enorme hipocrisia na importância que os políticos portugueses dão à abstenção nos últimos dias da campanha. Em cada legislatura, passam 3 anos e três quartos ignorando aqueles que defendem a aproximação dos cidadãos à política. Que passa por uma reforma do sistema eleitoral que acabe com as listas fechadas; um redesenho dos círculos eleitorais; mais transparência, para evitar conflitos de interesse. E tantas outras propostas sensatas que existem. Mas realmente, nenhum partido com representação parlamentar está interessado em reformar o sistema político.

A verdade é que no século XXI em Portugal, houve apenas uma eleição em que a abstenção diminuiu: tratou-se da eleição de 2005 – ano da primeira e única maioria absoluta do PS, em que “apenas” 35,7% dos portugueses não votaram, enquanto na eleição anterior, em 2002, esse valor tinha sido 38,5%. Fora 2005, a abstenção tem vindo sempre a subir neste novo século. Em 2009, atingiu 40,32% e em 2011 chegou ainda um pouco mais alto, ficando nos 41,97%.

Existem pois, poucas expectativas que a abstenção possa diminuir substancialmente no próximo Domingo. Há, mesmo assim, factores que podem contribuir para a mobilização: estamos perante uma eleição competitiva, isto é, onde o vencedor é relativamente incerto. Isso deveria mobilizar tanto os eleitores de esquerda como de direita. Depois, nunca como em 2015 se apresentaram tantos partidos às eleições.

Mas a abstenção tem dimensões estruturais fortes. Não apenas devido ao aumento histórico ao longo dos últimos anos, mas também por causa do aumento da emigração. Além da própria crise económica, que cavou ainda mais o fosso entre cidadãos e a política. Há também factores políticos recentes que têm distanciado os eleitores. Seja por inabilidade própria, seja por efeitos de bipolarização, os novos e os pequenos partidos sem representação parlamentar têm estado relativamente ausentes do debate público. As obrigações externas do país, e a neutralização do Syriza por Bruxelas, deixaram muito claro que as alternativas à esquerda do PS são irrelevantes. As diferenças estão entre PS e PSD. O tudo por tudo dos últimos dias destes dois grandes partidos servem para mobilizar os indecisos, para evitar que a maioria destes fique pela abstenção. Era bom que não fossem prontamente esquecidos a partir de dia 5 de Outubro.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários