A energia do amadorismo

Por Aqui Tudo Bem tem “qualquer coisa de muito real”, muito voluntarista, com que é impossível antipatizar.

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Por Aqui Tudo Bem tem um lado simples, quase amador

Estreia-se com vários anos de atraso (foi exibido no IndieLisboa de 2012) e isso ainda torna mais desprotegido um filme cuja maior simpatia está na sua desarmante fragilidade.

Por Aqui Tudo Bem foi a primeira longa-metragem da realizadora angolana Pocas Pascoal, rodada em Lisboa e contando a história, presumivelmente plena de ecos autobiográficos, de duas irmãs adolescentes que, ainda durante a guerra civil, abandonaram Angola à procura da proverbial “vida melhor”.

Em termos narrativos e descritivos, Por Aqui Tudo Bem tem um lado simples, quase amador, que é ao mesmo tempo o seu limite (a quantidade de episódios desprovidos de interesse, o naturalismo “por defeito”) e a fonte da sua genuinidade. Mesmo quando ela — a genuinidade — se revela desajeitadamente: por exemplo na cena do choro depois do telefonema que é o momento crucial do filme (e cena que, na sua elipse, é a melhor ideia dramática do filme) vemos bem que o choro do par de protagonistas (actrizes não-profissionais) é “falso”, forçado, mas é isso que acaba por se tornar comovente, como se o que Pocas Pascoal filmasse fosse menos a representação das suas actrizes do que o esforço que eles aplicam para que a representação seja convincente — não é, mas esse “não ser” tem qualquer coisa de muito real. E, por isso, se o filme nunca chega verdadeiramente a levantar voo em direcção a lado algum, fica sempre com isso, com “qualquer coisa de muito real”, muito voluntarista, com que é impossível antipatizar.

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