Folk mole

É bastante decepcionante, bastante maçador, e põe no “descanso” os sinais prometedores que tínhamos encontrado em Texas Killing Fields.

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Jackie & Ryan reduz a América ao seu lado mais folclórico, ainda que às vezes muito bonito DR

Ami Canaan Mann vem de boa linhagem (é filha de Michael Mann) e o primeiro filme dela que cá vimos (Texas Killing Fields) não deixava de denotar, no melhor sentido, certas influências familiares, quanto mais não fosse pela forma como se apropriava de um género (o policial) e dos seus procedimentos canónicos para o superar e com eles construir, num ambiente pantanoso, um lamento pela humanidade, completo com estranhas referências religiosas (católicas) e tudo. Muda a agulha neste Jackie & Ryan, e o que parecia promissor nesse outro filme desaparece por completo.

Ami Canaan Mann vem de boa linhagem (é filha de Michael Mann) e o primeiro filme dela que cá vimos (Texas Killing Fields) não deixava de denotar, no melhor sentido, certas influências familiares, quanto mais não fosse pela forma como se apropriava de um género (o policial) e dos seus procedimentos canónicos para o superar e com eles construir, num ambiente pantanoso, um lamento pela humanidade, completo com estranhas referências religiosas (católicas) e tudo. Muda a agulha neste Jackie & Ryan, e o que parecia promissor nesse outro filme desaparece por completo.

Mantém-se uma noção de ambiente, ou de atmosfera, um atordoamento qualquer que passa pela paisagem (o Utah) e pela meteorologia (o Inverno) e se transmite às personagens — a melancolia dos pores do sol, por exemplo.

Ami Canaan Mann talvez procure traduzir por aí a melancolia duma canção folk, tarefa principal da vida dos seus protagonistas, o par formado por Ryan (Ben Barnes) e Jackie (Katherine Heigl), “cantautores” folk na mó de baixo (mais ele do que ela, embora ele seja mais “vivo” do que ela, e embora ela tenha mais “possibilidades” do que ele). Mas não é verdade, não se passa nada, a moleza dramática de Jackie e Ryan é só isso, mole, e o universo folk fica reduzido ao seu lado mais, digamos, folclórico. Da mesma forma, o retrato de uma América interior, mais ou menos desolada, em situação de “pré-falência” económica, resulta episódio e esquemático, como uma colecção de bilhetes postais, ainda que alguns deles sejam muito bonitos — mas falta sempre a rudeza que se vê em certos filmes de Kelly Reichardt, por exemplo, que também já andou (por exemplo Wendy e Lucy) em territórios contíguos. É bastante decepcionante, bastante maçador, e põe no “descanso” os sinais prometedores que tínhamos encontrado em Texas Killing Fields.

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