IPO de Lisboa recebe mais 8,4 milhões em equipamentos mas faltam profissionais

Instituto foi reforçado com mais um aparelho de ressonância magnética e duas máquinas de radioterapia. Mas os responsáveis do IPO queixam-se de falta de meios humanos, como administrativos e auxiliares.

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O IPO recebe 6000 novos doentes por ano Gonçalo Português

“O cancro é a questão palpitante do momento actual, aquela que por toda a parte do mundo civilizado chama a atenção”. A frase foi dita em Abril de 1907 e pertence ao médico Miguel Bombarda. No entanto, nesta sexta-feira foi recuperada pelo director clínico do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, João Oliveira, com o médico a querer demonstrar que o tema dos tumores malignos está longe de estar ultrapassado. O IPO deu mais um passo nesse sentido. Conta agora com mais um aparelho de ressonância magnética de nova geração e com mais dois novos aceleradores lineares destinados à radioterapia. O problema, alertou João Oliveira, continua a estar do lado dos recursos humanos – que não chegam para o trabalho prestado pelo hospital.

A cerimónia de inauguração contou com a presença do ministro da Saúde, Paulo Macedo. A nova ressonância magnética representou um investimento de 1,4 milhões de euros e é a mais moderna do país, com melhor qualidade de imagem. Os dois aceleradores lineares, que juntos totalizam sete milhões de euros, também são mais modernos e um está preparado para cirurgias com recurso a radioterapia. O ministro destacou que “o reforço de equipamento são boas notícias”, justificando que as previsões apontam para que surjam cada vez mais novos casos de cancro que vão exigir mais recursos. O IPO fica agora com seis aceleradores para a radioterapia, um número que aliás já chegou a ter no passado.

“Entre 2011 e 2014 o IPO conseguiu fazer investimentos de mais de 20 milhões de euros”, reforçou o ministro, em referência à renovação de alguns serviços e também à aquisição de outros aparelhos como o PET-CT (um exame destinado ao diagnóstico por imagem através da emissão de positrões) e que chegou à instituição há um ano. “Estes investimentos tornam o IPO auto-suficiente em termos de imagem e representam uma poupança de quase três milhões de euros face aos exames que eram necessários fazer fora e representam uma aposta naquilo que é o sector público numa área que infelizmente vai continuar a ter mais portugueses a necessitarem do serviço”, disse.

Ainda em termos do que o investimento significa para o IPO, em termos de ressonância magnética o instituto deixa de precisar de enviar doentes para fora. Na radioterapia aumenta a capacidade de tratamento para 3000 doentes, sendo que metade dos 6000 novos doentes que recebem por ano precisam deste tipo de tratamento e ainda ajudam outros centros hospitalares, pelo que continuará a ser necessário ter alguns protocolos com o sector convencionado. Macedo destacou também que o IPO do Porto também já foi reforçado com um acelerador linear e que o IPO de Coimbra deverá ter mais um equipamento a funcionar até ao final do mês de Agosto.

O presidente do conselho de administração IPO de Lisboa, Francisco Ramos, congratulou-se com os investimentos que têm sido feitos em tempo de crise. Contudo, lembrou que além dos recursos técnicos o trabalho não acontece sem recursos humanos. O administrador aproveitou a cerimónia para alertar que, desde 2010, o instituto perdeu 143 profissionais, numa altura em que faz mais consultas, mais cirurgias, mais internamentos e mais tratamentos. Mesmo assim, disse que o primeiro semestre de 2015 já reverteu esta tendência, existindo agora mais 40 trabalhadores que no final de 2014.

“A questão não é a falta de médicos”, assegurou Francisco Ramos, que garantiu que tirando alguns casos particulares o corpo clínico é suficiente. O problema, insistiu, está na falta de outros profissionais, como enfermeiros, administrativos e assistentes operacionais. Também João Oliveira, num discurso emocionado, apelou a que “não estejamos a criar um mundo de desigualdade”, defendendo a necessidade de uma aposta contínua no Serviço Nacional de Saúde e na Oncologia.

Questionado sobre as carências de recursos humanos, Paulo Macedo respondeu que “podemos sempre querer descobrir uma má notícia e aqui no IPO podemos de certeza ter más notícias num instituto que trata oncologia”. Depois, o ministro reconheceu que podem ser necessários mais profissionais neste hospital mas contrapôs que o IPO “tem conseguido uma renovação do quadro médico” e que “houve uma necessidade de enfermeiros e de assistentes operacionais que foi satisfeita”. “Este ano, para o SNS, já devemos ter contratado quase 5000 pessoas nestes meses”, insistiu Macedo, que prometeu que a contratação de oncologistas será uma prioridade.

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