Agora sem vanguarda

Os Django Django reclamam uma herança mais clássica e diminuem o peso da maquinaria, mas a eficácia é a mesma.

Foto
Os Django Django reclamam uma herança mais clássica e diminuem o peso da maquinaria, mas a eficácia é a mesma DR

E, como não podia deixar de ser, o segundo álbum dos Django Django dividiu críticos: “Ai que isto já não é o futuro da música”, bradam os desiludidos, “Ai que isto é uma maravilha”, replicam os fãs. De fora, parece só haver duas formas de ouvir música: ou como uma criança para quem tudo tem de ser uma novidade que capte a sua atenção (antes de a deitar fora para se dedicar a outra novidade), ou como um fanático que tudo aceita.

Vamos lá tentar situar Born Under Saturn: é um disco menos electrónico do que o anterior, assente nas premissas do psicadelismo dos anos 1960 e que oscila entre a ênfase na melodia dançável (lembrando gente tão diversa como os Primal Scream ou os Stone Roses) e a ênfase na dança melódica (como uns Animal Collective que efectivamente fizessem canções). É como se os Django Django reclamassem uma herança mais clássica, e para tal diminuíssem o peso da maquinaria, procurando a mesma eficácia. Em dez dos 13 temas conseguem-no, e a única coisa que se lhes pode apontar são dez minutos a mais num disco cheio de momentos admiráveis: o enorme refrão de Pause repeat, a batida de Reflections e a sequência admirável que vai de Beginning to fade até Breaking glass, passando por 4000 yearsBorn Under Saturn seria o disco que se os Byrds e Booker T. & The M.G.’s se unissem fariam caso fossem miúdos hoje; é a forma de esta rapaziada dizer “Isto que nós fazemos é r’n’b”. E isso fica claro na magníficaShake and tremble, com a sua conjugação de guitarra à Cramps e pianada. Claro que nunca mais ninguém os verá como vanguardistas, mas o que interessa isso se as canções são boas?

Sugerir correcção
Comentar