Casillas

Iker Casillas está podre de rico. Correcção, ainda não está, mas vai estar. É por estas e por outras que me custa compreender a razão de tanto choro, ainda para mais quando é de um matulão de um metro e oitenta e cinco de quem estamos a falar

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Reuters Staff

É por demais difícil compreender porque chora um homem diante das câmaras de televisão quando à sua espera estão, nem mais nem menos, que catorze milhões de euros, líquidos, por dois anos de contrato como guarda-redes do Fêcêpê. Refiro-me, obviamente, a Casillas, Iker para os amigos, o qual não ficou sem emprego, o qual não deixou de ter dinheiro para pagar a prestação da casa, o aptamil do filho ou os livros escolares da mais velha, o qual, findos vinte e cinco anos de trabalho ao serviço do clube do seu coração, não se vê na triste condição de ter de estender o braço no meio da rua na dependência da caridade alheia. Não. Iker Casillas está podre de rico. Correcção, ainda não está, mas vai estar. É por estas e por outras que me custa compreender a razão de tanto choro, ainda para mais quando é de um matulão de um metro e oitenta e cinco de quem estamos a falar. Por estas e por outras é que não deviam ter acabado com o serviço militar. Afinal, já dizia o Obélix: “Se queres fazer de um homem um homem, tens de começar por lhe dar uns tabefes.“

De igual modo, é difícil compreender porque não dão os media igual tempo de antena a todos quantos, todos os dias, perdem, factualmente, os seus empregos, sem por isso terem outro à espera. Ainda para mais agora que nos aproximamos do Verão, famigerado pelo sem número de fábricas e empresas que fecham “para férias“ e sem aviso prévio, para desespero de milhares de trabalhadores, os quais, indefesos, perdem os amanhãs para todo o sempre em detrimento de patrões, ainda hoje, ainda sempre, impunes. Mas não, a esses trabalhadores ninguém vem entrevistar. Já dizia o outro, a morte de uma pessoa é uma tragédia, a de um milhão é estatística.

De igual modo é difícil compreender porque não temos nós um palanque na Portela, para que todos quantos hoje saem do país possam dar a tal conferência de imprensa (essa sim, emocionada) como o Iker acabou de dar.

E por aqui se percebe o porquê da Sara não querer vir com o seu Iker para o Porto. Não por ter asco do Porto, ou nojo dos Portugueses (porque até aí qualquer um perceberia, e por certo, uma vez chegada, teria igual tratamento, não seria a primeira e nem por isso a última), não por não querer deixar a sua Madrid mais a sua terra Natal. Não, nada disso, porque agora que bem te compreendo, Sara: já não se fazem homens como antigamente, e homens como o teu não merecem que viremos a nossa vida do avesso, nem que seja para viver em Miami ou na Califórnia, e muito menos no Porto. Nem que para isso nos paguem catorze milhões de euros, e mais vale só que mal acompanhada.

E agora até a mãe do Iker diz que o Fêcêpê é um clube de terceira divisão, sendo que a dita senhora se recusa a aceitar tal sorte para o seu “hijo precioso“. Afinal, com que cara irá a dita senhora explicar lá no cabeleireiro que o seu filho está agora a mando de um pequeno clube do Norte de Portugal, o qual, por acaso, só tem duas Taças dos Campeões Europeus (por certo um erro da História)? E, já agora, minha senhora, alguém lhe pediu a opinião? Ai, ai, meus amigos, tivéssemos todos a infeliz sorte deste guarda-redes, é este o meu desejo, é este o meu desabafo!

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