Cirurgia para mudar a cor dos olhos pode cegar, avisam especialistas

Sociedade Portuguesa de Oftalmologia alerta para o aumento exponencial de cirurgias para mudar a cor dos olhos no estrangeiro. Os procedimentos, que não estão aprovados em Portugal, podem ter consequências graves para a visão e até mesmo cegar.

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Cirurgias estéticas com o objectivo de mudar a cor dos olhos estão a ganhar popularidade por todo o mundo. Em comunicado, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) alerta para “consequências graves para a visão, inclusive a cegueira” que estes procedimentos podem causar.

De momento há dois procedimentos possíveis para a transformação da cor dos olhos. Uma concentração elevada de pigmentos de melanina à superfície da íris torna os olhos castanhos, por isso, incide-se laser na íris de forma a destruir os pigmentos e dar cor azul aos olhos. Há também a possibilidade de colocar um objecto estranho dentro do olho, ou seja, um implante entre a íris e a córnea para o mesmo efeito.

A presidente da SPO, Maria João Quadrado, confirma que há um aumento exponencial de pessoas a realizar estas cirurgias especialmente na América do Sul, nomeadamente no Brasil, e adianta que ainda assim já teve contacto com três pacientes em Portugal. “Cada vez há mais informação na internet que afirma que estes procedimentos são seguros, reversíveis e apenas cosméticos e com a facilidade de movimentação as pessoas dirigem-se à América do Sul para as realizar", "até mesmo talk shows americanos têm falado nisto de forma leviana, tornam tudo muito fácil, mas na realidade não é e pode até levar à cegueira”, explica Maria João Quadrado. A presidente da SPO adverte ainda para a necessidade de “fazer a distinção entre estas cirurgias e outras realizadas através de laser, como é o caso das cirurgias para correcção de erros refractivos, procedimentos seguros e amplamente estudados e realizados apenas por médicos oftalmologistas”.

Em Portugal, a introdução do implante intraocular não está aprovada pela Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed). Também em países como o Brasil e os Estados Unidos em que o procedimento não está aprovado, as associações de oftalmologia têm lançado alertas, pode ler-se no comunicado publicado pela Associação Brasileira de Oftalmologia (ABO), “pacientes brasileiros já foram submetidos a ele [implante intraocular] no exterior e a desinformação pode trazer grandes danos permanentes”.

Em 2012 foi publicado um estudo no Journal of Cataract & Refractive Surgery que concluiu que o transplante intraocular pode causar danos irreversíveis nos olhos. Realizado em sete pacientes submetidos ao procedimento, verificaram que, eventualmente, todos acabaram por ter de retirar os implantes em ambos os olhos, elevando ainda mais o risco lesões. Observaram-se muitas complicações como é o caso de: cataratas, hemorragias, diminuição da qualidade visual, pressão intraocular aumentada, uveítes, inflamação oculares, glaucomas e lesões corneanas, podendo, em casos extremos, ser necessário um transplante córneo. Muitos destes problemas, em particular, o glaucoma, são as causas mais frequentes de cegueira no mundo, segundo comunicado da ABO.

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