Gérard Depardieu: o palmarés de Cannes é franco-burguês

O seu filme estava a concurso na edição deste ano e não recebeu qualquer prémio. O actor atira-se ao importante festival de cinema e critica a sua orientação.

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Depardieu ODD ANDERSEN/AFP

Gérard Depardieu não foge da polémica e desta vez atirou-se ao Festival de Cannes numa entrevista ao jornal francês L'Observateur, dizendo que os seus prémios simbolizam aquilo em que o evento se tornou – algo “franco-burguês”.

O actor francês de 66 anos tinha, recorde-se, um filme a concurso na última edição do festival. The Valley of Love, que se estreia dia 17 em França (ainda sem data em Portugal, mas já comprado pela Leopardo Filmes de Paulo Branco), é realizado por Guillaume Nicloux e co-protagonizado por Depardieu e Isabelle Huppert, dupla que se reúne pela primeira vez no ecrã em 35 anos – a última tinha sido com Loulou (1980), de Maurice Pialat. Um filme bem recebido pela crítica, sobre um par de pais divorciados que se encontram no Vale da Morte californiano a lidar com o suicídio do filho, e que Depardieu defende sem pruridos.

“Não quero saber de Cannes, mas já que fomos gostaria muito que tivessem dado o prémio de argumento a Guillaume Nicloux, ele merecia-o. O palmarés parece aquilo em que se tornou Cannes, é franco-burguês”, atira.

O palmarés de Cannes 2015 foi o seguinte: Palma de Ouro para Dheepan, de Jacques Audiard, Grande Prémio para Le fils de Saul, de László Neme e Prémio de Realização para The Assassin, de Hou Hsiao-Hsien, prémios de interpretação para Emmanuèlle Bercot por Mon Roi, de Maïwenn, ex-aequo com Rooney Mara por Carol, de Todd Haynes, e para Vincent Lindon por La Loi du Marché, de Stéphane Brizé.

Lindon, cujo agradecimento pelo seu “primeiro prémio” por um papel de um desempregado que luta para voltar ao mercado foi um momento emotivo da entrega dos galardões, é o único que escapa às críticas de Depardieu a Cannes. “Tal não me impede de estar profundamente feliz por Vincent Lindon, que é um rapaz maravilhoso e que contribui grandemente para a ressurreição de um cinema francês que já não temos e que é essencial para nós. Vincent tem nele essa força que inspira o desejo, e que ele comunica ao espectador”, comentou o actor sobre o colega premiado na 68.ª edição de Cannes.

Já as outras escolhas do júri presidido pelos irmãos Joel e Ethan Coen, nomeadamente Emmanuelle Bercot no filme de Maïwenn, não se mostra benevolente e diz algo como “enfim, adiante…”. Está feliz por Jacques Audiard, sim, mas considera que não é o seu melhor filme – prefere O Profeta, o filme favorito da edição de 2009 do festival mas que acabou por ser batido por O Laço Branco, de Michael Haneke, e também não se alonga muito nos comentários sobre a sua Palma.    
 
Depardieu é um dos mais conhecidos actores franceses e um rosto do cinema internacional. Excessivo e de personalidade forte, viu-se envolto numa polémica recente quando em 2013 decidiu pedir nacionalidade russa para escapar e contestar a intenção do Governo francês - depois chumbada pelo Tribunal Constitucional - de criar uma taxa de 75% sobre o rendimento dos mais ricos. Na Rússia, o imposto sobre rendimentos pessoais era de 13%. 

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