Enfermeiros esperam “contratações em resposta” a greve com adesão de 80%

Luta de dois dias quer mais profissionais e melhores condições de trabalho. Sindicato estuda mais formas de luta.

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Até dia 19, hospitais de Coimbra, Algarve e Alentejo vão ter paralizações Paulo Pimenta

Para o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), a adesão de 80% dos profissionais à greve de dois dias que começou nesta quinta-feira merece uma resposta imediata do Ministério da Saúde: mais contratações. A posição defendida pelo presidente do SEP foi corroborada pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, que se juntaram ao balanço feito por José Carlos Martins no Hospital de São José, em Lisboa. A paralisação foi convocada nesta semana e prolonga-se até sexta-feira com o objectivo de reivindicar a “necessidade de valorização económica da carreira de enfermagem".

O presidente do SEP adiantou que os dados nacionais provisórios do sindicato são de uma adesão global de 80%, com destaque para o Hospital de São José com 92,5%. Há depois casos como a Maternidade Alfredo da Costa e o Hospital Curry Cabral, também em Lisboa, onde a adesão é de 77% e 66%, respectivamente. Em sentido contrário vão unidades como o Hospital do Fundão, que se ficou pelos 31%. José Carlos Martins disse que os serviços mínimos estão assegurados, mas reforçou que há muitas cirurgias e tratamentos que ficam por fazer.

“Os enfermeiros estão cansados, exaustos e desmotivados”, sintetizou o sindicalista, acrescentando que esta adesão “traduz a enorme e ampla insatisfação promovida pelo Ministério da Saúde". Espera por isso “contratações em resposta à paralisação”, ou alerta que vão avançar para mais formas de luta. José Carlos Martins insistiu que os enfermeiros são os licenciados da administração pública com salários mais baixos à entrada na carreira e destacou também a falta de recursos humanos nos hospitais e centros de saúde. “O acréscimo de efectivos real é extremamente insuficiente face àquilo que são as necessidades”, afirmou em reacção aos mais de 700 profissionais de enfermagem que a tutela já contratou em 2015.

Do outro lado, o Ministério da Saúde não comenta, mas também não reconhece estes números.

Nas contas do SEP, faltam 25 mil enfermeiros em todo o país, cinco mil dos quais nos cuidados primários. “O nosso sindicato apresentou uma proposta de admissão De 2500 enfermeiros ao ano”, disse José Carlos Martins, que lamentou a falta de resposta do Ministério da Saúde às propostas que têm apresentado. Em concreto sobre o concurso para entrarem mais 1000 enfermeiros para os cuidados de saúde primários, o presidente do SEP alertou para a demora destes processos, estimando que “só vão chegar aos serviços daqui a dois anos”.

A coordenadora do Bloco de Esquerda, que se juntou ao SEP no Hospital de São José, em reacção à greve, disse que “a adesão dos enfermeiros é sinal da força das suas reivindicações e de um grande consenso sobre a necessidade de uma alteração profunda no SNS”. Catarina Martins considerou que “é uma luta pelos direitos dos utentes” e defendeu que “temos visto nos últimos tempos como o SNS está menos capaz de dar resposta às necessidades das pessoas”. A bloquista considera que a degradação resulta também da falta de profissionais e destacou os enfermeiros como “porta de entrada dos utentes no SNS”. Catarina Martins lamentou, ainda, que ao mesmo tempo que faltam profissionais no serviço público haja um grande aumento da emigração. “Há aqui um forte grito de alerta. É preciso contratar. Uma greve tão expressiva deve também ter uma resposta expressiva e essa resposta é a contratação de mais enfermeiros”, concluiu.

Uma ideia que foi corroborada pela deputada do PCP Carla Cruz, que definiu esta greve de dois dias como uma luta “contra a política e o rumo que o SNS está a tomar por via das opções políticas”. A comunista referiu também a emigração como um contra-senso, já que o país precisa de “mais 25 mil enfermeiros”. “As equipas que compõem o SNS estão desfalcadas”, insistiu, adiantando que o PCP deu entrada na Assembleia da República com um iniciativa legislativa que visa precisamente “a valorização e o reforço” dos enfermeiros.

Ainda sobre a questão da valorização, José Carlos Martins estima em quase 300 milhões de euros aquilo que a tutela tem ganho “à custa dos enfermeiros”. O presidente do SEP diz que nestas contas entram os aumentos dos horários das 35 para as 40 horas semanais sem acréscimo de salário, o corte no pagamento das chamadas horas de qualidade e o congelamento das carreiras. Porém, alerta que a falta de recursos também tem custos para o país, estimando que se o SNS contasse com o número suficiente de enfermeiros que melhoraria indicadores como a mortalidade, os reinternamentos, quedas e reduziria as infecções hospitalares em 30%.

A última greve convocada pelo SEP aconteceu em Novembro de 2014 e contou com uma adesão na ordem dos 75%. A paralisação ficou marcada por trocas de críticas entre o SEP e o Ministério da Saúde, com a tutela a acusar o sindicado de “irresponsabilidade” por ter mantido o protesto que decorreu em pleno surto de Legionella do concelho de Vila Franca de Xira. Paulo Macedo avançou mesmo com a publicação de um despacho em que declarou o surto “uma situação grave de emergência de saúde pública” e estabeleceu uma lista de hospitais na região da Grande Lisboa onde os enfermeiros tiveram de se apresentar ao serviço, apesar da greve nacional.

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