Zé do Rádio era o adepto mais chato do mundo

Indefectível do Sport do Recife, adepto tornou-se célebre por importunar os adversários até à exaustão. Morreu aos 69 anos.

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Zé do Rádio ao lado do gigantone que o representava no Carnaval de Olinda DR

Na Ilha do Retiro, nome pelo qual é popularmente conhecido o estádio do Sport Club do Recife, ele já fazia parte da mobília: Ivaldo Firmino dos Santos respondia pelo nome de Zé do Rádio e era tão fervorosamente adepto dos “leões” pernambucanos que personificava o conceito de 12.º jogador. Acompanhado do seu inseparável rádio, dava à equipa uma ajuda não tinha preço porque atormentava a paciência dos treinadores adversários. Foi considerado o adepto mais chato do Brasil e chegou a ser reconhecido pelo livro de recordes do Guinness. Não resistiu a uma paragem cardio-respiratória e despediu-se aos 69 anos.

Apaixonado pelo Sport do Recife, Zé do Rádio começou a ganhar protagonismo na exacta proporção em que incomodava os adversários. O adepto ferrenho instalava-se a sensivelmente dois metros do banco de suplentes dos visitantes e ligava o seu rádio – um enorme aparelho de 1961 que pesava uns cinco quilos – no volume máximo. Era o suficiente para deixar qualquer um com os nervos em franja. “Um dos seus primeiros ‘alvos’ foi Zagallo, em 1999. Comandando a Portuguesa, o ex-técnico da selecção viu a sua equipa perder com o Sport por 1-0 e ainda teve de aguentar as provocações de Zé”, recordava o Sport no seu site oficial.

Zagallo, campeão do mundo enquanto jogador e treinador, queixar-se-ia mais tarde que tinha conhecido no Recife o adepto mais chato do Brasil. “Ele pediu para eu baixar o rádio. Aí, eu disse que não é baixar, é diminuir o volume. Mas eu abaixei. Coloquei o rádio no chão, mas aumentei ainda mais o som”, explicaria Zé do Rádio. Tornou-se um fenómeno e o rol de treinadores adversários com os ouvidos a arder não parou de crescer. Luiz Felipe Scolari, ex-seleccionador português, foi uma das “vítimas”. “Felipão chegou ao ponto de chamar a polícia para me colocar para fora do campo da Ilha do Retiro porque disse que o rádio estava incomodando o trabalho dele”, dizia o adepto, em 2011, ao canal brasileiro SporTV.

A figura de Zé do Rádio extravasou o futebol: um dos gigantones que desfilava todos os anos, no Carnaval de Olinda, homenageava este adepto do Sport do Recife, com o seu bigode característico e o inseparável rádio.

Reformado da polícia militar, em 2002 Zé do Rádio precisou de ser submetido a um transplante de coração, após cinco meses na lista de espera. Ironia das ironias, viria mais tarde a saber que o dador do órgão era adepto do rival Náutico. Mas, dentro do seu peito, sempre bateu pelas camisolas rubro-negras dos “leões”: “O coração novo aumentou a minha paixão pelo Sport”, costumava dizer. E isso só reforçou a sua determinação em ser o mais chato possível para os adversários.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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