Desde 2009, houve mais 80 mil mortes do que nascimentos

Tendência para a diminuição da população manteve-se no ano passado: nascimentos voltaram a diminuir e nunca houve tão poucos casamentos em Portugal.

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Os bebés alimentados apenas com leite materno crescem mais nos primeiros quatro/seis meses de vida Adriano Miranda

Em apenas seis anos, entre 2009 e 2014, morreram quase mais 80 mil pessoas do que as que nasceram nesse período. É o resultado de seis anos consecutivos de saldos naturais negativos (mais óbitos do que nascimentos) e que se fica a dever ao decréscimo constante da taxa de natalidade, revelam os dados esta quinta-feira divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). As "estatísticas vitais" do INE apontam também para uma nova diminuição dos casamentos, que baixaram para o número mais baixo de sempre.

Os dados do INE agora publicados indicam que em 2014 o número de óbitos (104.790) suplantou de novo o total de nascimentos, levando a que, apenas neste ano, o saldo natural negativo ascendesse a 22.423 pessoas, apesar de o total de mortes até  ter diminuído ligeiramente face a 2013.

As estatísticas permitem perceber que o fenómeno se fica a dever sobretudo à queda da natalidade, porque o total de óbitos mantém-se relativamente estável ao longo dos anos, enquanto os nascimentos têm sempre diminuído e de forma abrupta nalguns anos. Em 2014, a taxa de natalidade voltou a descer, ao contrário do que se tinha previsto inicialmente, mas esta queda foi muito ligeira (menos 420 nascimentos, ou seja, menos 0,5% do que em 2013).

Agora, o INE revelou os números definitivos (82.367 nascimentos de crianças cujas mães eram residentes em Portugal) que vêm contrariar a tendência para um ligeiro acréscimo que tinha sido evidenciada pelos “testes do pezinho” (exames de rastreio feitos aos bebés nos primeiros dias de vida) feitos pela Unidade de Rastreio Neonatal, Metabolismo e Genética do Instituto. Ricardo Jorge

O INE sublinha, a propósito, que a diminuição dos nascimentos em 2014 registou "menor intensidade do que nos três últimos anos” ( -4,5% em 2011, -7,2% em 2012 e -7,9% em 2013). Para isso, explica, terá contribuído o nascimento no segundo semestre de 2014 de mais 1024 crianças do que no período homólogo de 2013, o que não chegou, porém, para compensar o decréscimo verificado no primeiro semestre.

Também seguindo a tendência já verificada em anos anteriores, em 2014 houve menos portugueses a casar-se. Foram 31.478, menos 520 do que no ano anterior, um mínimo histórico. Apenas um terço foi celebrado pela Igreja Católica e, do total, destaca o INE, 308 casamentos foram realizados entre pessoas do mesmo sexo.

Mais de metade dos residentes em Portugal que se casaram no ano passado já viviam juntos, uma situação que tem vindo a aumentar de forma significativa nos últimos anos (em 2009, nesta situação estavam 39,2% dos noivos).

As portuguesas estão também a ter filhos cada vez mais tarde. As estatísticas do INE revelam que a percentagem de mães com 35 ou mais anos cresceu 7,9 pontos percentuais em comparação com 2009. Outro fenómeno que também está a aumentar: há cada vez mais filhos nascidos “fora do casamento” (no ano passado eram já quase metade do total).

São dados apresentados numa altura em que o Governo e os partidos da oposição apresentaram várias medidas para incentivar a natalidade em Portugal. A preocupação dos políticos com esta problemática começou depois de as quebras sucessivas e abruptas do número de nascimentos, entre 2010 e 2013, terem feito soar campainhas de alarme.

Em 2013, Portugal detinha a mais baixa taxa de fecundidade no conjunto dos países da União Europeia (média de 1,21 filhos por mulher em idade fértil) e a idade média do nascimento do primeiro filho ascendia já aos 29,7 anos.

Num recente estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre dinâmicas demográficas e envelhecimento da população especialistas estimavam que, “na melhor das hipóteses”, Portugal terá menos 1,5 milhões de habitantes em 2060. No pior cenário, a redução poderá chegar aos quatro milhões. A boa notícia é que a esperança de vida deverá aumentar, chegando aos 90 anos (em média), no caso das mulheres, e aos 86 anos, no caso dos homens.

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