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Muitos, como Daniil Kharms, não são reconhecidos senão muito depois de terem morrido. Outros, como Jack Handey, estão vivos e recomendam-se, mas toda a gente pensa que não existem.

Ian Frazier é uma bênção. Entre muitas outras coisas boas é um escritor hilariante. Se só o conhece de The New Yorker pensará que é provável não estar a perder nada – mas está.

No mais recente New York Review of Books escreveu um belo ensaio sobre o génio de Daniil Kharms, um escritor russo que nasceu em 1905, escreveu contos surrealistas e cómicos nos anos 30 e morreu de fome, preso, em 1942, com 36 anos de idade. O ensaio é grátis online: o título é "A strangely funny russian genius".

Frazier lembra-se logo de outro génio que faz rir: o americano Jack Handey. Se, tal como eu até anteontem, julgava que era um pseudónimo, usado em velhos programas (entre 1991 e 1998) do Saturday Night Live, desengane-se já: é um escritor verdadeiro, cujo nome é verdadeiramente Jack Handey.

Comecei a ler os contos de Daniil Kharms (alguns poucos sobreviveram, graças a Gorbatchov) enquanto lia, simultaneamente, os Deep Thoughts de Jack Handey, seguido por Deeper Thoughts e outros livros alucinantes e engraçadíssimos dos mesmos dois autores.

Kafka (morto aos 40 anos) é o pai literário de Kharms, mas os filhos (Ionesco e Beckett) começaram a escrever muito depois de Kharms ter morrido.

O milagre vivo é Jack Handey, que continua vivo com 66 anos. Ian Frazier tem razão: muitos, como Kharms, não são reconhecidos senão muito depois de terem morrido. Outros, como Jack Handey, estão vivos e recomendam-se, mas toda a gente pensa que não existem.

Contrarie-se!

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