Erik Johnson deve ter qualquer coisa contra a normalidade. A bordo dos Wooden Shjips distribuía psicadelismo suficiente para deixar a população inteira do continente americano com o cérebro em Marte. Agora, ao segundo disco dos Moon Duo, não nos deixa — como é habitual nos melómanos quando se interessam por um álbum — a perguntar “Que discos terá ouvido este moço?”, mas antes “Que ingredientes químicos constarão da farmácia caseira deste rapaz?”.

A parte da discoteca caseira é simples: Johnson terá sido desde pequeno alimentado com muito 13th Floor Elevators (notória influência no riff circular de Wilding, a faixa de abertura), decerto viciou-se em Velvet (cujo Sister Ray é pai de Slow down low, o sétimo tema) e criou dependência pelos Spacemen 3 (que são a inspiração para Free the skull). O truque é sempre o mesmo: uma linha melódica (à guitarra ou em sintetizadores com defeito), circular e repetitiva, um segundo instrumento a fazer harmonias, solos sem direcção, e a voz, ao fundo, sempre — e tomem isto como uma liberdade de expressão, não estamos aqui para fazer falsos testemunhos — drogada. Ora, se de uma forma ou outra estas diferentes fórmulas de indução psicadélica já foram usadas, o talento do sr. Johnson reside na sua habilidade para reordenar cada molécula dos diversos compostos e criar um alucinógeno que, longe de ser uma pastilha intragável, vai sempre a subir, culminando na batida hipnótica de Ice e no disparo de Animal, talvez o único tema que não nos faz temer que mais dia menos dia Erik vai dar entrada no hospital para uma lavagem de estômago urgente. Ia dizer-vos para consumirem com moderação, porque Shadow Of The Sun é altamente viciante, mas vocês já são grandinhos, por isso aguentem-se à bronca.