Caso José Sócrates: o perfume da vergonha

Vergonha foi o que eu senti, não só como advogada, mas também como cidadã, quando ouvi, esta semana, as palavras proferidas pelo colega João Araújo

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Pedro Cunha

A vergonha é um sentimento penoso, que nos assola e nos molesta. Sentimos vergonha quando achamos que estivemos aquém de nós próprios, quando sentimos o peso da desonra. Daí entendermos comummente que o pejo evita os atos indecorosos e a indignação e a revolta.

Vergonha foi o que eu senti, não só como advogada, mas também como cidadã, quando ouvi, esta semana, as palavras proferidas pelo colega João Araújo, advogado de defesa de José Sócrates, um banquete explícito de ofensas, ornamentado com palavras bastante tenazes e ofensivas. Não foi parco nas palavras, não se coibiu de ser inconveniente e de insultar uma jornalista, dizendo-lhe que cheirava mal e que deveria tomar banho, resvalando este discurso para um final cavernoso quando diz: “Esta gajada mete-me nojo”. Senti vergonha!

Um advogado é indispensável à administração da justiça e, como tal, deve ter um comportamento público e profissional adequado à dignidade e responsabilidades da função que exerce. O Estatuto da Ordem dos Advogados reforça que a honestidade, probidade, rectidão, lealdade, cortesia e sinceridade são obrigações profissionais, como refere o seu artigo 83.º. 

Isto não se coaduna de todo com o cenário ocorrido aos pés do Supremo Tribunal de Justiça. Uma falta de "savoir faire" grotesca, um comportamento indelicado que varou grosseiramente o Estatuto da Ordem dos Advogados, desrespeitando-o e pondo em causa os deveres e o papel do advogado na sociedade.

Independentemente dos motivos que possam existir, e que não são descortinados, lamento este triste episódio, que ofende, desprestigia e faz enrubescer a classe, onde a vergonha saiu de cena entregando o seu papel principal à arrogância e à falta de cortesia e profissionalismo. 

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