Mais de metade dos alemães acha que a Grécia deve sair do euro

Sondagem mostra que se tem vindo a registar uma alteração profunda do sentimento da população alemã face à Grécia.

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Comissão Europeia está pessimista em relação à evolução da economia grega AFP PHOTO/Emmanuel Dunand

No meio de um ambiente cada vez mais crispado entre os governos de Berlim e Atenas, os sinais de confiança entre as populações dos dois países vão também diminuindo. De acordo com uma sondagem realizada pelo canal de televisão ZDF, a maioria alemães inquiridos considera que a Grécia deve sair da zona euro.

Este resultado mostra que se tem vindo a registar, durante as últimas semanas, uma alteração profunda do sentimento da população alemã face à Grécia. Há duas semanas, perante a mesma pergunta, 52% dos inquiridos dizia que se deveria assegurar que a Grécia mantém o euro, enquanto 40% defendia que deveria sair. Agora, os resultados inverteram-se, com 52% a dizer que a melhor solução é uma saído euro, enquanto 41% insistem numa manutenção.

O mesmo inquérito revela ainda que apenas uma minoria dos alemães mostra ter confiança no executivo grego. Apenas 11% dos inquiridos disse considerar que o Governo liderado por Alexis Tsipras se está a comportar de uma forma fiável. Da mesma forma, 14% dizem acreditar que Atenas acabe mesmo por cumprir as medidas de austeridade e as reformas estruturais que estão previstas no programa da troika.

Para tornar ainda mais claro o que é que a população alemã acha que o seu governo deve fazer, quatro em cada cinco inquiridos acham que a Grécia não deve receber mais empréstimos se não fizer aquilo com que se comprometeu.

O ambiente face à Grécia revelado por esta sondagem é um espelho daquilo que tem sido defendido pelo principais responsáveis do Governo alemão. Esta sexta-feira, o ministro das Finanças Wolfgang Schäuble voltou a não colocar de lado a possibilidade de a Grécia sair do euro, não perdendo a oportunidade de mostrar a sua desconfiança em relação às garantias dadas por Atenas. “Tendo em conta que a Grécia é a única responsável e decide aquilo que deve acontecer – e nós não sabemos exactamente o que é que os líderes gregos estão a fazer – não podemos excluir essa possibilidade [de saída da Grécia do euro]”.

Do lado do governo grego - que durante a semana relançou a exigência de indemnizações à Alemanha por causa dos custos da II Grande – as atenções agora estão centradas na forma como decorrem as negociações para a conclusão do programa com a troika, agora denominada como “as instituições”.

Uma das instituições é a Comissão Europeia, que durante a difícil negociação da Grécia no Eurogrupo até foi vista por Yanis Varoufakis como uma espécie de aliada. Talvez por isso, Alexis Tsipras, o primeiro-ministro grego, tenha visitado esta sexta-feira o presidente da Comissão, em Bruxelas, numa altura em que precisa cada vez com mais urgência de assegurar que os cofres do Estado têm o dinheiro necessário para a Grécia não falhar os seus compromissos financeiros.

 Ainda assim, o que ouviu de Jean-Claude Juncker foi um aviso de que um acordo ainda não está próximo. “Não estou satisfeito com os desenvolvimentos das últimas semanas. Não penso que se tenha feito progresso suficiente”, disse Juncker, que ainda assim garantiu estar “a excluir por completo a hipótese de um insucesso”.

A discussão entre a troika e a Grécia, que ocorre tanto em Bruxelas como em Atenas, é feita em torno daquilo que faz parte do programa assinado pelo anterior Governo e aquilo que ficou previsto no acordo de extensão do programa feito no Eurogrupo. Aí ficou prevista a possibilidade de a meta para o excedente orçamental primário ser revista em baixa, abrindo-se também a possibilidade de substituição de algumas medidas por outras a sugerir pelo Executivo grego. Atenas entretanto apresentou sete medidas concretas, que estarão entre as primeiras a ser discutidas e eventualmente aplicadas.

Para já, os responsáveis da Comissão Europeia acentuaram o seu apelo para que tudo seja feito para evitar uma saída da Grécia do euro. Jean-Claude Juncker disse que “este não é um tempo para divisões”, ao passo que o comissário para os assuntos económicos, Pierre Moscovici, avisou que “se um país sair do euro, os mercados irão perguntar imediatamente qual é o país que vem a seguir”.

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