O estranho marido de Nicole

Reiteração pobre dos cânones do thriller.

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Variação sobre o tema da mulher dominada por um marido esquivo e ambíguo, que lembra vagamente o Gaslight dos anos 40, o filme de George Cukor em que Ingrid Bergman pensava que estava a enlouquecer até perceber que estava era a ser envenenada aos poucos pelo marido Charles Boyer.

Não se trata de veneno aqui, antes de coisas eventualmente mais sinistras, cuja referência constituiria imperdoável ofensa aos crentes em spoilers. Mas o fantasma da loucura, esse é certo, através da história duma mulher amnésica (Nicole Kidman) condenada a acreditar no homem que acorda ao seu lado (Colin Firth) quando este lhe diz que é o seu marido.

Não é difícil adivinhar no argumento – ou no romance que lhe serviu de base, um best seller de S.J. Watson – algumas virtudes na criação de uma atmosfera psicológica incerta e ameaçadora. O filme de Rowan Joffé (filho do mais célebre Roland, que nos anos 80 viveu episódica glória com inesquecíveis pastelões como Killing Fields ou A Missão) não está verdadeiramente à altura dessas adivinhadas qualidades, a não ser por breves momentos, quase todos devidos aos actores – Kidman, já bem rodada no número da mulher desamparada, e Firth, a explorar um “lado negro” que a sua filmografia poucas vezes convocou.

Mas mesmo isso é só durante o tempo em que o filme descreve a confusão e expõe o enigma; a partir do momento em que surgem as primeiras pistas significativas e o filme se posiciona para a resolução do mistério afunda-se num reiteração simples e pobre dos cânones do thriller, a reforçar a sensação de desperdício do que, para todos os efeitos, é realmente um boa história.

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