Os ricos e os pobres

Entre o “filme de golpe” e o thriller de submarinos, está aqui um belo filme de género que merece toda a atenção que se lhe quiser dar.

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É capaz de estar aqui o melhor filme do escocês Kevin Macdonald, autor de O Último Rei da Escócia (2006) e Ligações Perigosas (2009): um filme abertamente “de género” mas que não se deixa “fechar” nele, que invoca momentos fortes do cinema anglo-americano mas os actualiza com uma energia peculiar.

A meio caminho entre A Caça ao Outubro Vermelho, A Odisseia do Submarino 96 e os velhos filmes de submarinos da II Guerra, Mar Negro é um peculiar heist movie (ou “filme de golpe”), sobre um grupo de marinheiros despedidos por uma firma de salvados marítimos que fretam um submarino russo para recuperar uma fortuna em ouro nazi escondida nas profundezas do Mar Negro. Macdonald encena este thriller claustrofóbico com um magistral controle do espaço e do ritmo, e marca a diferença ao não enjeitar a questão central subjacente à narrativa: a tensão classista entre os que têm dinheiro e os que não o têm, com a tripulação, meio russa meio britânica, a embarcar numa missão quase suicida que lhes garanta o regresso a uma dignidade que o mundo exterior teima em não lhes reconhecer.

Como qualquer bom thriller de submarinos, é um filme de ensemble, gerido com a proverbial qualidade inglesa, mas onde seria injusto não destacar um Jude Law a quem a idade está a fazer muito bem. A discrição com que Mar Negro dá à costa não é razão para se passar ao lado de um filme muito mais interessante do que a aparência dá a entender.

 

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