Porto recebe esta sexta-feira seminário sobre Cidades em Transição

Evento terá participação online do fundador deste movimento internacional, Rob Hopkins, e de responsáveis por iniciativas em vários países.

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A agricultura urbana é uma das actividades acarinhadas pelo movimento das Cidades em Transição Fernando Veludo/NFactos

Há dois anos, um grupo de quatro pessoas conseguiu pôr 150 habitantes de Portalegre a organizar um encontro internacional sobre a Economia da Dádiva. A Ajudada, como se chamou esta iniciativa do Portalegre em Transição, teve 800 participantes de vários países, que durante três dias, em 95 actividades, discutiram partilharam, ideias sobre como tornar as nossas relações menos dependentes de um preço. A imprensa portuguesa ignorou praticamente o assunto, que foi notícia em vários pontos da Europa.

Portugal está algo longe das Cidades em Transição, movimento fundado por Rob Hopkins, em Totnes, no Sudoeste de Inglaterra, e que tenta encontrar formas alternativas, e sustentáveis, de lidar com um conjunto de problemas que se colocam às sociedades modernas: as mudanças climáticas, a dependência do petróleo e de outros recursos finitos, o mito do crescimento económico contínuo e o impacto da globalização nas comunidades locais. E para um primeiro contacto com o tema, a Fundação Cupertino de Miranda exibe já esta quinta-feira, a partir das 15h30, o filme Transição 2.0.

O apelo a uma mudança de mentalidades, individual e colectiva, materializa-se em milhares de iniciativas um pouco por todo o planeta, e esta sexta-feira há uma boa oportunidade para conhecer o que é isto da Cultura da Transição, num seminário organizado pela Fundação Cupertino de Miranda, no Porto, que fecha um ano de actividades sob este lema. A Câmara do Porto aderiu, e será representada por Rui Moreira, que terá a seu lado o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, na sessão de abertura, pelas 9h30.

Já Rob Hopkins não vai ao Porto. Para não contribuir para as emissões de CO2 que as viagens de avião implicam, o mentor da rede mundial fará uma intervenção via Skype. Mas a portuguesa Filipa Pimentel, fundadora do Portalegre em Transição e actual responsável, a partir de Bruxelas, pela rede mundial de iniciativas ligadas ao movimento, marcará presença na conferência, na qual estará também Cristiano Bottone, que dá a cara pelo movimento em Itália, e as também portuguesas Sara Rocha e Andreia Ruela, que estão a tentar provocar a mudança em Coimbra e Aveiro.

Se em Portalegre o ambiente institucional descrito por Filipa Pimentel facilita o desenvolvimento de projectos associados à transição, em Coimbra, explicou ao PÚBLICO Sara Rocha, as instituições públicas ainda não estão muito receptivas às formas de intervenção deste movimento, que trabalha muito conceitos como o da responsabilidade individual perante a comunidade, o da partilha – de conhecimentos, de capacidades individuais – e da criação de redes locais. No Porto, admite a presidente da fundação, Maria Amélia Cupertino de Miranda, falta “consistência” às experiências no terreno, que são poucas, nota.

E em que se materializa isto da transição, que pode ser aplicada, por exemplo, quando falamos em agricultura urbana? A resiliência e a proximidade são palavras-chave. No movimento acredita-se que a resolução de muitos dos nossos problemas está na própria comunidade onde se vive, e Filipa Pimentel, que deixou há uns anos um emprego numa instituição europeia em Bruxelas para ir trabalhar com Hopkins para Totnes, uma cidade de pouco mais de 20 mil habitantes, dá vários exemplos do que lá encontrou.

Ali, descreve a portuguesa, não existem franchises do comércio internacional, e valoriza-se a produção local e a criatividade, a capacitação individual, é estimulada. Ali, num evento tipo Shark Tank – em que o nome tubarão nunca poderia ser usado, claro – quem tiver uma nova ideia de negócio pode receber, dos vizinhos, apoio financeiro, ou “tão só” horas semanais de alguém que se disponibiliza a cuidar-lhe dos filhos.

Estas e outras experiências vão ser partilhadas nesta sexta-feira, numa iniciativa que, ao contrário de uma conferência normal, pede muita intervenção dos participantes. Grande parte do dia vai ser dedicado a discussões e a desenvolver, em várias oficinas, algumas ideias com aplicação prática. No sábado, já noutro local, o Centro Paroquial de Aldoar, realiza-se também uma oficina que visa ajudar jovens adultos, entre os 20 e os 35 anos, a criar um projecto na respectiva comunidade. Para se participar nestas iniciativas é necessário apenas fazer inscrição prévia, quer no site da fundação, quer no site da Transição em Portugal.

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