É bonito, é, mas é só um papel de parede

Aqui há mais investimento ornamental do que do que investimento narrativo.

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É um bocado decepcionante que depois de um filme tão seco e tão austero – leia-se: tão isento de “truques” – como All is Lost reencontremos JC Chandor a afirmar-se como “estilista”, a deixar uma assinatura e uma “visão de autor” que não encontra outra forma de passar a não ser pela evidência do gesto, e do gesto de “decorador”.

Porque em Um Ano Muito Violento há mais investimento ornamental do que do que investimento narrativo, a segunda depende da primeira e muito para além da “reconstituição de época” (o princípio dos anos 1980). É provavelmente a maneira de Chandor encontrar uma filiação com uma ideia de “classicismo”, seja o genuíno seja o “neo” dos anos 70. Mas compare-se, porque vem imenso ao espírito, com um James Gray, por exemplo o Nós Controlamos a Noite, que também “reconstitui” os anos 80: o que Gray faz “por dentro”, organicamente, Chandor faz pelas superfícies, escolhendo um papel de parede bonito. É bonito, é, mas é só um papel de parede.

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