O design como sistema

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“O mais fascinante sobre qualquer sistema é a sua qualidade universal”, diz o designer André Hernâni Meca, que tem um cartaz na exposição "Systems: a retrospective of 1960s Braun design" DR
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No cartaz, André Meca explora a palavra “sistema”, conforme pedia o "briefing", e o tipo de letra usado tinha de ser o Akzidenz-Grotesk que a Braun utilizava
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Dieter Rams foi director de design da Braun durante mais de 30 anos (fotografado no seu gabinete em 1979) Martyn Goddard/Corbis
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A exposição é um tributo retrospectivo da filosofia de precisão e funcionalismo que Dieter Rams imprimiu na produção da empresa alemã
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Peças icónicas da Braun produzidas na década de 1960 misturam-se com posters de tributo a Dieter Rams e à marca alemã em Paris. Um desses posters é do designer português André Meca.

O desafio: fazer um poster sobre o design sistemático da Braun. O ambiente: uma exposição que conjuga os cartazes resultantes desse desafio com alguns dos produtos emblemáticos da marca alemã. Um dos 34 posters na mostra é português. “O mais fascinante sobre qualquer sistema é a sua qualidade universal”, diz o designer André Hernâni Meca à Revista 2, e “os produtos Braun alcançaram essa qualidade, essa pequena jóia”.

Systems: a retrospective of 1960s braun design está até dia 27 de Fevereiro em Paris, no showroom da loja de design Moda International, depois de já ter passado por Londres e Pequim. É uma celebração do trabalho de Dieter Rams, que entrou na Braun em 1955 e foi seu director de design durante mais de 30 anos — é dele a máxima “Menos, mas melhor” e Dez Princípios do Design. A exposição é também um tributo retrospectivo da filosofia de precisão e funcionalismo que Rams imprimiu na produção da empresa.

Essa filosofia, no fundo, era pensar a experiência de um produto do princípio ao fim. Da embalagem ao microchip, do logótipo à tecla. Algo que “se tornou bastante comum actualmente — agora, se as marcas não o fizerem, parecem desleixadas — mas que nos anos 1960 era bastante invulgar”, contextualiza na revista Wired Peter Kapos, responsável pelo museu online Das Programm (que colige os trabalhos de Dieter Rams para a Braun e para a Vitsoe), que organiza esta exposição.

Uma forma de pensar o design oriunda da Ulm School of Design alemã e que a Braun foi pioneira a absorver, pensando a organização dos objectos de forma racional como potenciais modelos para uma vivência social mais… racional. Contrata Dieter Rams e ele faz peças como o gira-discos SK-4, conhecido como “Caixão de Branca de Neve” ou os projectores de slides da série D. “Qualidade. Essência. Racionalidade na utilização de materiais. Sustentável. Acessíveis à população. Intemporal”, descreve e enumera André Meca sobre a importância desta visão na Braun do conceito de sistema e seus reflexos na história do design.

Aos 26 anos, André Meca está agora a estagiar num estúdio de design gráfico em Viena. Em Lisboa faltavam oportunidades e o licenciado da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha foi para a Áustria no mesmo mês em que em Paris se inaugurou a exposição com o seu poster e outros 33 dos restantes designers convidados. No cartaz explora a palavra “sistema”, conforme pedia o briefing do museu Das Programm, e o tipo de letra usado tinha de ser o Akzidenz-Grotesk que a Braun utilizava. “A minha solução é um reflexo da minha realidade”, diz à Revista 2 por email. “E é por isso que amo o design.” Partiu do inglês para sistema, “systems”, para tentar chegar a uma “linguagem universal, não mostrando uma foto de produto, mas simplesmente adicionando as palavras ‘systeme’ (alemão), ‘systèmes’ (francês) e ‘sistemas’ criando um sistema de montagem, tornando-se visível a forma das palavras em diferentes línguas” mas também “a sua igual origem. Surpreendentemente todas se encaixam entre si criando um contraste visual entre a largura das palavras e da organização vertical repetida das letras. Assimetria e hierarquia articulada como uma unidade, com a ajuda do quadrado branco superior esquerdo”, como explicava no texto enviado, no final de 2013 e depois de um mês de trabalho sobre o desafio do curador Peter Kapos, juntamente com o seu poster.

Outros designers gráficos de várias partes do mundo escolheram mostrar plantas técnicas de sistemas electrónicos, empilhar máquinas de café em sistemas de som, pôr calculadoras à transparência ou brincar com os botões redondos de gradações simples, das máquinas de lavar às aparelhagens estéreo, tradicionais da Braun nos seus cartazes. Todos dialogam na exposição com as peças caseiras mas universais da marca alemã. Para André Meca, traduzir toda a história do design da Braun na década de 1960 num poster foi “simples”. Porque, diz, não se trata de um foco no seu ou noutros posters presentes na exposição, “mas sim dos produtos expostos, da filosofia de responsabilidade da Braun. Representar aquilo que é bom e tem qualidade é fácil”.

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