Gary Glitter, estrela rock dos anos 1970, condenado por pedofilia

O cantor britânico, cuja carreira fora destruída em 1997 quando da descoberta de pornografia infantil no seu computador, foi considerado culpado de abusos sexuais a três menores.

Gary Glitter à entrada do tribunal londrino onde foi julgado
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Gary Glitter à entrada do tribunal londrino onde foi julgado REUTERS/Toby Melville
O cantor no auge da sua fama, em 1973
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O cantor no auge da sua fama, em 1973 AFP

Gary Glitter tornou-se uma inesperada estrela do glam-rock quando em 1972, aos 28 anos, editou Rock and Roll, Parts One & Two. Foi o início de uma carreira que, alicerçada no imenso sucesso na década de 1970, lhe assegurou o estatuto de celebridade no Reino Unido. Esta quinta-feira, Glitter, nascido Paul Gadd, 70 anos, foi considerado culpado de abusos sexuais a três menores, entre os oito e os 13 anos, pelo júri do tribunal de Southwark, em Londres, perante o qual foi julgado. A sentença será conhecida a 27 de Fevereiro.

A condenação surge 17 anos depois de Gary Glitter se ter transformado, aos olhos do público, de estrela rock famosa pelas roupas extravagantes e pelas perucas com poupa de tamanho exagerado em predador sexual. Em 1997, quando entrou numa loja de equipamento informático para recolher o seu computador, que ali deixara para ser reparado, tinha a polícia a esperá-lo. Tinham sido descobertas no aparelho milhares de imagens de pornografia infantil e, por esse crime, Glitter seria condenado em 1999 a quatro meses de prisão.

Quando libertado, mudou-se para Cuba, onde nasceu o seu terceiro filho. Abandonaria o país quando as autoridades cubanas iniciaram um combate intensivo ao turismo sexual, relata o Telegraph. Dali emigrou para o Camboja, país do qual acabaria expulso após alegações de abuso sexual de menores. Mudar-se-ia então para o vizinho Vietname. Acabaria preso quando tentava fugir do país, temendo a prisão iminente. Seria julgado e condenado por “actos obscenos” com duas raparigas, de dez e 11 anos. Estávamos em 2005 e Gary Glitter cumpriria dois anos de pena, finda a qual acabou extraditado para Inglaterra.

Nos anos seguintes tentou manter uma vida discreta num bairro londrino. O lançamento em 2012 da investigação Yewtree por parte da polícia inglesa, na sequência do escândalo de pedofilia envolvendo o então já falecido Jimmy Saville, uma muito popular personalidade da rádio inglesa, acabou por pô-lo novamente na rota dos investigadores. Mulheres abusadas na infância pelo cantor denunciaram à polícia o que haviam guardado para si durante décadas, por temerem que a sua palavra nada valesse contra a de uma figura pública da dimensão de Glitter.

Uma das mulheres, hoje uma enfermeira, falou em tribunal sobre o dia de 1975 em que o cantor lhe deu boleia no seu Rolls Royce, levando-a para sua casa. Ela, com oito anos à época, ficou deslumbrada com a mansão do seu ídolo, onde havia um quarto com guloseimas, piscina e um pónei. Nessa noite, Glitter irrompeu pelo quarto onde dormia, tentando violá-la.

O inspector-chefe Michael Orchard, do Departamento de Ofensas Sexuais, Exploração e Abuso Infantil, afirmou, citado pelo Guardian: “Paul Gadd demonstrou ser um predador sexual assíduo, que aproveitou o seu estatuto de estrela para escolher como alvo raparigas jovens que confiavam nele e que se sentiam impressionadas pela sua fama. A ausência de remorsos que demonstrou e a sua defesa, dizendo que as suas vítimas mentiam, tornam os seus crimes ainda mais indefensáveis.”

Gary Glitter negou veementemente as acusações. Relatos das sessões dão conta de um homem que chorava convulsivamente enquanto argumentava que as imagens alojadas no seu computador não eram representativas dos seus hábitos sexuais, mas resultado do abuso de drogas, dos problemas financeiros resultantes de uma carreira em declínio e das saudades que sentia da namorada de então.

Os cinco homens e sete mulheres do júri não foram sensíveis à sua defesa. Ao ouvir o veredicto, Glitter mostrou-se primeiro chocado. Levantou-se depois, lançando beijos para as galerias repletas de repórteres enquanto era conduzido à prisão.

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