Xanana Gusmão escolhe sucessor que divide coligação de Governo

Já se sabia que o primeiro-ministro estava de saída, mas não que iria convidar um membro da Fretilin, na oposição, para ocupar o seu lugar.

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Xanana quer deixar o poder, 13 anos depois da independência Jewel Samad/AFP

Uma semana depois de ter confirmado num jantar com os membros do seu Governo a decisão de abandonar o cargo de primeiro-ministro e acelerar a reestruturação governamental que há muito se discutia em Díli, Xanana Gusmão convidou para seu sucessor Rui Araújo, ex-ministro da Saúde e membro do Comité Central da Fretilin, o principal partido da oposição. Os partidos que integram a coligação de Governo discordam da escolha.

O antigo líder da resistência à ocupação indonésia apresentou esta quinta-feira a sua demissão ao Presidente, Taur Matan Ruak. “Venho apresentar a vossa excelência o meu pedido de demissão, assegurando-lhe que irei continuar a estar disponível para servir os melhores interesses do Estado e da nação e pela intransigente defesa e consolidação da soberania nacional”, escreveu.

Depois do convite a Araújo, na quarta-feira, seguiu-se o anúncio aos partidos da coligação: para além do CNRT (Conselho Nacional de Reconstrução de Timor-Leste), a Frente Mudança (FM) e o Partido Democrático (PD). Segundo disse à Lusa um responsável do PD, tanto este partido como o CNRT, de Xanana, convocaram reuniões das lideranças para analisar as consequências da escolha de Rui Araújo e há “grande descontentamento”. “O bloco [coligação] pode estar terminado”, afirmou à Lusa um dirigente do CNRT.

Sabe-se que os líderes dos três partidos da coligação formada por Xanana depois das eleições de 2012 estavam a tentar convencer o ainda primeiro-ministro a não escolher para sucessor um militante da oposição. A apoiar a decisão de Xanana Gusmão estão os “veteranos”, incluindo o ex-primeiro-ministro e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, José Ramos-Horta, e os líderes da Fretilin, Mario Alkatiri (secretário-geral) e Lu’O’lo (presidente da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente).

Alkatiri já confirmara o convite de Xanana a Rui Araújo, que também foi vice-primeiro-ministro de Ramos-Horta. A semana passada disse que era natural que houvesse membros da Fretilin no novo governo, explicando que se tratariam de convites individuais. “Exigir que o primeiro-ministro faça uma remodelação dentro do bloco é impossível, aí ele já encontrou os melhores. Não podemos dizer que tem de remodelar, reduzir o Governo e depois dizer que continuamos fora.”

De acordo com a Constituição, o chefe de Estado tem de aceitar a demissão do primeiro-ministro e “nomear e empossar o primeiro-ministro indigitado pelo partido ou aliança de partidos com maioria parlamentar, ouvidos os partidos políticos representados no Parlamento”. Ou seja, com a oposição do CNRT e do PD, é imprevisível o que se poderá seguir.

Um ano depois de começar a falar em afastar-se, defendendo que era preciso começar a dar lugar às novas gerações de líderes, Xanana quer sair quando o seu Governo ainda tem mandato até 2017. “O objectivo da reestruturação”, explicava-se a semana passada num comunicado, “é tornar o Governo mais eficiente e eficaz, focando-o na prestação de serviços para o povo de Timor”.

Treze anos depois da independência – Xanana foi Presidente nos primeiros cinco e tornou-se primeiro-ministro depois disso, em 2007 –, Timor continua a ter graves problemas de desenvolvimento. Apesar dos milhares de milhões de euros das receitas da produção de gás e exploração de petróleo, metade da população de 1,2 milhões vive na pobreza.

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