Poupem-nos

Suspeito que desde o princípio do milénio é obrigatório que cada filme americano faça a apologia do pot e a sacralização do bong como símbolo fálico dos bromances.

Admiro todos os filmes de Paul Thomas Anderson, excepto o último, Inherent Vice. Acho que cedeu a uma fraqueza de popularidade. O filme está cheio de momentos "gostem de mim", "achem-me graça" e "acreditem que eu sou um gajo porreiro que fuma ganzas".

Paul Thomas Anderson é um cineasta grandioso (The Master) e miniaturista (Punch Drunk Love) que sofre, como muitos mestres dramáticos, de ausência de sentido de humor.

Eu sou a favor da legalização das drogas (que são todas pesadas, incluindo o álcool), mas suspeito que desde o princípio do milénio é obrigatório que cada filme americano faça a apologia do pot e a sacralização do bong como símbolo fálico dos bromances – romances de amizade entre bros que, não sendo irmãos (brothers), são profissionais (pros) da amizade aturdida de quem está sempre a fumar charros.

Inherent Vice é uma tentativa de fazer um filme a partir de um péssimo romance de 2009 do barroco, paranóico e ilegível discorredor e torrencialista Thomas Pynchon. É mais um caso em que o realizador de cinema é muito melhor do que o escritor de ficções (apesar do argumento, do próprio Paul Thomas Anderson, ser relativamente bom, não obstante roçar o arcaico).

Mais irritante ainda é a voz da narradora: a compositora, música e cantora Joanna Newsom, venerada desde 2005. Continua a ter, uma década depois da estreia, uma voz infantilizada e incompreensível, como se uma mulher de 32 anos falasse como uma menina de quatro ou cinco.

Que chatice.

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