Sem atrito

Mike Leigh não é capaz de encontrar, na reconstituição dos tempos de Turner, a matéria e o atrito que enformam, sem esforço, os seus filmes contemporâneos.

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Não é que o problema de Mike Leigh seja a “reconstituição de época”, mesmo que os seus filmes mais relevantes sejam aqueles que dão – em “directo”, na melhor tradição realista britânica – a época em que foram feitos.

É só não ser capaz de encontrar, na sua reconstituição dos tempos de Turner, a matéria e o atrito que enformam, sem esforço, os seus filmes contemporâneos (que saudades temos, a ver o filme, dessa matéria e desse atrito que havia, por exemplo e falando de filmes sobre pintores, no som dos lápis de Michel Piccoli a rasparem o papel na “Belle Noiseuse” de Rivette).

Fica o olhar “psicologista”, tipo viagem pela complexidade da cabeça do grande artista, sobre Turner, que Timothy Spall interpreta com afinco mas que, azar, também nos lembra incessantemente o que Charles Laughton fez com Rembrandt num velho filme dos anos 30 de Alexander Korda.

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