Espírito invisível

Luís Lopes de Lisboa a Berlim, com coerência e um permanente espírito rock a conduzir a música

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Luís Lopes encontra na companhia de Robert Landfermann e Christian Lillinger um espaço amplo para a sua guitarra expansiva Nuno Martins

Da vasta produção musical de Luís Lopes tem-se destacado especialmente o trabalho ao leme do Humanization Quartet — com Rodrigo Amado e os irmãos Stefan e Aaron González. Paralelamente, o guitarrista lisboeta tem investido em muitos outros projectos, como é o caso do seu trabalho a solo, o trio com Adam Lane e Igal Foni (que gravou What is When), o quinteto AfterFall (com Sei Miguel, Joe Giardullo, Benjamim Duboc e Harvey Sorgen), ou este Lisbon Berlin Trio, que ameaça agora tornar-se um caso sério na sua discografia.

Na companhia de Robert Landfermann (contrabaixo) e Christian Lillinger (bateria), Luís Lopes encontra neste contexto um espaço amplo para expor a sua guitarra expansiva. Naquele que é o segundo disco deste trio transeuropeu, Lopes volta a exibir uma linguagem que incorpora múltiplos recursos: o disco arranca num ambiente tranquilo, quase atmosférico; segue-se uma composição forte e bem estruturada, com notas claras; para depois surgir uma guitarra suja, a despejar faíscas. Nunca se repetindo, guitarra, contrabaixo e bateria exploram uma imensa variedade de ideias e, apesar dessa diversidade, mantêm uma coerência invisível: um permanente espírito rock a conduzir toda a música.

Christian Lillinger é um extraordinário jovem baterista, imaginativo e de uma expressividade exuberante. Mais discreto, Robert Landfermann cumpre no contrabaixo com toda a eficiência, sem nunca se esconder: ora embala com o arco, ora desafia a força da guitarra com a energia do pedal de efeitos. Com este segundo disco, Lopes mostra que a ligação com Landfermann e Lillinger não se trata apenas de um flirt ocasional, tendo já evoluído para uma relação séria. E ainda bem, pois talvez seja este trio o veículo onde o guitarrista melhor exprime a sua vasta amplitude sónica. 

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