Robert Mugabe vai decidir quem lhe sucede e a mulher é uma séria candidata

O ZANU-PF vai dar plenos poderes ao chefe de Estado e ostraciza a vice-presidente que já andava em campanha.

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Robert e Grace Mugabe: a mulher do Presidente quer suceder ao marido Reuters

O Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, concretizou neste domingo um plano para ser ele a escolher quem lhe sucederá à frente do partido no poder, a ZANU-PF (União Nacional Africana do Zimbabwe — Frente Patriótica), apostando que essa será também a pessoa que vai ocupar o seu lugar na chefia de Estado.

Numa reunião que durou toda a noite de sábado e madrugada de domingo, o Politburo do ZANU-PF aprovou uma alteração substancial aos estatutos do partido, acabando com a eleição dos dois vice-presidentes. Estes eram eleitos por delegados das dez regiões do país; a partir de agora, os dois cargos serão preenchidos por quem Mugabe quiser.

"Foi decidido que deixa de haver eleição de vice-presidentes. Estes serão nomeados e esta decisão deixa o partido mais unido e coeso", disse à Reuters uma fonte do ZANU-PF.

Na origem desta decisão — que terá que ser aprovada pelo Comité Central do partido e, depois, pelo congresso da ZANU-PF, que começa a 2 de Dezembro — está o que Mugabe considera ser uma tentativa de golpe contra si. Uma das vice-presidentes, Joice Mujuru, foi acusada pelo chefe de Estado, pela primeira-dama e por toda a imprensa estatal de querer o lugar de Mugabe e de já estar a contar espingardas dentro do partido, para quando chegasse o momento (ou seja, quando o Presidente se retirar ou quando morrer).

Em Outubro, Grace Mugabe, atacou a vice-presidente em público chamando-lhe uma série de nomes: "Ingrata, corrupta, tola, divisionista... uma miserável". Mujuru era, há alguns meses, considerada de facto como uma das possíveis sucessoras de Mugabe à frente do partido  — juntamente com o ministro da Justiça, Emmerson Mnangagwa —, mas eis que um terceiro nome de grande peso surgiu na corrida, o de Grace Mugabe.

"Dizem que quero ser Presidente. E por que não?", disse a mulher do chefe de Estado no discurso em que atacou Mujuru.

A sucessão é um assunto sobre a mesa no Zimbabwe. Robert Mugabe, que está no poder desde o nascimento do país, em 1980 (primeiro como primeiro-ministro, depois como Presidente), tem 90 anos e não está bem de saúde — em 2013 iniciou o sétimo mandato de cinco anos. O Presidente não gostou que, dentro do partido, se começassem a delinear facções de apoio a um ou outro candidatos ao seu lugar. Uma campanha contra a vice-presidente Majuru, considerada a mais activa nesta luta pelo poder, teve início e o resultado foi o recuo de muitos dos seus partidários, com alguns a afastarem-se dela e outros a serem afastados dos cargos que ocupavam no partido. Os media estatais deram eco à indignação do casal presidencial.

Majuru foi aconselhada a demitir-se — Grace Mugabe tem sido a figura que mais tem insistido neste ponto. Mas a vice-presidente disse estar determinada a manter-se no cargo, considerando que as pressões de que está a ser alvo são inconstitucionais. Resta saber se resistirá ao Congresso do partido, onde Mugabe voltará a ser proclamado líder incontestado, e oficialmente candidato à releição em 2017, e a quem serão dados plenos poderes de decisão.
 

   





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