Legionella veio de torres de refrigeração mas ninguém diz de quais

Ministérios da Saúde e do Ambiente invocam o segredo de Justiça e nada dizem sobre a origem concreta do surto em Vila Franca de Xira.

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Os ministros da Saúde, Paulo Macedo, e do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, na conferência de imprensa desta sexta-feira Daniel Rocha
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Está confirmado que o surto de Legionella em Vila Franca de Xira teve origem em torres de refrigeração de indústrias da região. Mas os ministérios da Saúde e do Ambiente recusam-se a revelar quais terão de facto sido responsáveis, invocando o segredo de Justiça.

Segundo os resultados preliminares da vigilância do surto, divulgados nesta sexta-feira em Lisboa, há uma correlação entre as bactérias de Legionella encontradas em torres de refrigeração e as que infectaram os doentes.

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Tanto o director-geral da Saúde, Francisco George, como o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, não indicaram qual ou quais as empresas onde terão sido encontradas concentrações anormais de Legionella, uma vez que está em curso um inquérito na Procuradoria-Geral da República.

A suspeita maior tem recaído sobre a fábrica de adubos ADP Fertilizantes, no Forte da Casa. “Considerávamos que havia um grau de probabilidade mais forte numas determinadas torres. Mas nunca foram descartadas outras hipóteses”, afirmou o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva.

O inspector-geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, Nuno Banza, afirmou que foram recolhidos elementos de prova, validados pelo Ministério Público, mas não esclareceu se se referem a uma ou mais empresas.

DGS: melhor era impossível
O presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) informou que “os dados sobre a direcção e a intensidade dos ventos” confirmaram a existência de um período “anormal” entre 18 de Outubro e 1 de Novembro — datas que coincidem com as curvas da epidemia traçadas pela Direcção-Geral da Saúde. “São condições atmosféricas realmente particulares, em concordância com o período anómalo”, reforçou Miguel Miranda, que especificou que as condições de elevada humidade, sobretudo durante o período nocturno, registadas no período em análise coincidiram com uma velocidade reduzida do vento e num sentido pouco habitual. Os dados do IPMA também apontam para uma concentração elevada de partículas vindas do deserto do Sahara que podiam justificar um risco acrescido para a população.

Em relação aos resultados apurados no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, o presidente deste organismo, Fernando Almeida, confirmou que “o perfil molecular” da Legionella encontrada nas amostras das torres de arrefecimento “se assemelha à que foi encontrada nos doentes”.

Já o director-geral da Saúde, Francisco George, destacou que os resultados estão a ser apresentados apenas uma semana depois de ter sido identificado o surto e reforçou que “não teria sido possível fazer melhor”, tanto no tratamento dos mais de 300 doentes, como na procura de identificação da fonte da bactéria e nas mensagens transmitidas à população. Garantiu, ainda, que os cidadãos podem retomar “todos os hábitos” — em referência aos apelos que tinham sido feitos para que desinfectassem os chuveiros e deixassem de tomar banho de duche.

Cinco novos casos
Os sinais de que havia um surto de Legionella surgiram na última sexta-feira, dia 7. Até às 15h desta sexta-feira, havia 316 casos reportados, com sete mortes confirmadas — seis homens e uma mulher, com idades entre os 52 e os 81 anos. De todos os doentes internados, 45 já tiveram alta.

Desde quinta-feira até ao meio da tarde de sexta, houve apenas cinco novos casos reportados, o que sugere que o surto, localizado em três freguesias de Vila Franca de Xira, está próximo do fim. A Direcção-Geral da Saúde estima que poderão surgir novos casos até 20 de Novembro, uma vez que as torres de refrigeração foram encerradas dia 10. O período de incubação da Legionella é no máximo de dez dias.

O Ministério Público já abriu um inquérito para apurar eventuais responsabilidades criminais pelo surto. Se o caso for enquadrado como um crime de poluição, as penas podem ir a um máximo de 11 anos de prisão.

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