O gigante Orlando Julius
A colaboração da lenda do afro-beat com os Heliocentrics é imaculada
O autor que se acuse: quando se procura informação sobre os Heliocentrics na Wikipédia, aparece um único parágrafo, exclusivamente em português (do Brasil): “The Heliocentrics é um grupo musical que mistura hip-hop, funk, jazz, música psicodélica, eletrônica, avant-garde e música étnica. É famosa por ter acompanhado (e tocado a base para composições de) artistas como Mulatu Astatke, Madlib e DJ Shadow (no álbum The Outsider)”.
Acrescente-se: tanto nos discos assinados apenas por eles, como nos que acompanham uma antiga glória, acontece sempre magia, algo nunca ouvido que nos faz crer estarmos perante o futuro de qualquer coisa. Era assim no espantoso Out There ou no álbum a meias com Astatke. Não é assim na colaboração com o lendário Orlando Julius, autor de alguns dos maiores riffs de saxofone da história da música popular: Jaiyede Afro é um casamento mais convencional, com a banda por trás a funcionar como suporte para os disparos melódicos de Julius. Uma sinopse curta do mestre poderia ser assim: sem ele não teria havido Fela Kuti... Pelo que Jaiyede Afro é uma viagem às múltiplas dobras do afro-beat (e à obra de Julius, claro), aqui mais clássico (Love thy neighbour), ali mais free (Be counted), acolá mais psicadélico (Sangodele). A fórmula é quase sempre a mesma: um beat quebradiço e complexo, uma linha de guitarra de menear ombros, um baixo compulsivo e uma parede de saxofones, enquanto em fundo um Hammond devaneia sem freios à medida que as faixas se soltam e se tornam longas jams dançáveis e imprevisíveis — até se regressar à melodia inicial.
Do primeiro ao último beat, Jaiyede Afro é um disco imaculado, arrojado e tão inventivo e fresco como se Orlando Julius tivesse acabado de aparecer no mundo musical. De Julius está tudo dito: é um gigante; dos Helioncentrics há muito por dizer — em particular na Wikipédia.