Exército do Burkina Faso promete ceder o poder a governo de transição

Pressão internacional para “transmissão imediata do poder às autoridades civis”. União Africana deu ultimato de duas semanas, sob pena de sanções.

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Isaac Zida, após o encontro com diplomatas e jornalistas ISSOUF SANOGO/AFP

O Exército do Burkina Faso vai ceder o mais rapidamente possível o poder a um governo de transição e nomear um novo Presidente, prometeu, esta segunda-feira, o chefe de Estado interino, tenente-coronel Isaac Zida.

“Não estamos aqui para usurpar o poder nem para ficar na governação, mas para ajudar o país a sair desta situação”, disse, num encontro com diplomatas e jornalistas. A transição será feita “num quadro constitucional” e o futuro Presidente será escolhido após discussões alargadas, acrescentou. A declaração aponta para o cenário de escolha de uma personalidade civil.

O anúncio de Isaac Zida surge na sequência de contestação de rua a uma solução de poder militar e à pressão internacional, designadamente dos Estados Unidos, para a “transmissão imediata do poder às autoridades civis”. Foi feita no mesmo dia em que a União Africana deu um ultimato de duas semanas aos militares para restituírem o poder aos civis, sob pena de serem impostas sanções ao país.

A União Africana entende que os militares agiram contra a Constituição ao tomarem o poder depois de o Presidente Blaise Campaoré ter sido forçado a demitir-se, na sexta-feira, após dois dias de gigantescas manifestações.

As manifestações que levaram à queda de Campaoré, que ocupava o cargo desde 1987, foram convocadas contra a alteração à Constituição que o ex-Presidente tinha apresentado para se poder candidatar a um quinto mandato. O Parlamento, edifícios públicos e residências de ministros foram pilhadas e incendiadas. Os militares entraram em cena, o que levou à resignação do Presidente.

O general Nabéré Honoré Traoré, chefe militar que precipitou a queda de Compaoré, ao anunciar a dissolução do Parlamento face à convulsão que tomou conta da capital, Ougadougou, anunciou que assumia as funções de chefe de Estado. Horas depois, Isaac Zida, número dois da Guarda Presidencial, fez idêntico anúncio, no que afigurou como o resultado de uma batalha pelo poder dentro do Exército.

Em Ouagadougo, a situação esteve esta segunda-feira calma, depois de, no domingo, os militares terem dispersado manifestantes das imediações da televisão pública e da Praça Nation, rebaptizada “praça da revolução” e epicentro da contestação. A acção causou a morte de um jovem manifestante, atingido a tiro.

Blaise Compaoré refugiou-se na vizinha Costa do Marfim.

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