Editor suíço descobre em Nova Iorque 20 contos inéditos de Truman Capote

Os textos agora encontrados na Biblioteca Pública de Nova Iorque deverão ter sido escritos pelo autor de A Sangue Frio entre os 11 e os 19 anos e permitem ver “um jovem génio a trabalhar”.

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Truman Capote fotografado por Carl van Vechten em 1948 Biblioteca do Congresso, EUA, Colecção Van Vechten

O editor suíço Peter Haag e a sua mulher, a jornalista Anuschka Roshani, descobriram em Nova Iorque 20 contos e uma dúzia de poemas inéditos do escritor norte-americano Truman Capote (1924-1984), que morreu há 30 anos. O achado foi capa da revista ZEITmagazin, do semanário alemão Die Zeit, que publicou, na sua edição de 9 de Outubro, traduções de quatro dos contos agora encontrados: Miss Belle Rankin, This Here Is from Jamie, Saturday Night e The Horror in the Swamp.

O conjunto de narrativas breves e poemas, que Truman Capote terá escrito entre os 11 e os 19 anos, só deverá ser publicado em Dezembro de 2015, em língua alemã pela editora de Peter Haag, Klein & Aber, e no original inglês pelo grupo editorial Random House. O escritor e ensaísta David Ebershoff,  especialista na obra do autor de Boneca de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1958) e A Sangue Frio (In Cold Blood, 1965), está a preparar a fixação dos textos para a edição da Random House e diz que “ler estes manuscritos, com as suas correcções e revisões, é fascinante, porque se pode literalmente ver um jovem génio a trabalhar”. E garante que  não usa o termo “génio” com ligeireza e que “estas histórias mostram que o talento de Capote e o seu modo de olhar o mundo já estavam com ele desde que era muito jovem”. 

Pode dizer-se que este surpreendente achado foi o sucesso de um fracasso. Quando Peter Haag e Anuschka Roshani, jornalista de uma revista de fim-de-semana comum a vários diários suíços, Das Magazin, e organizadora de edições de Capote em língua alemã, partiram este Verão para Nova Iorque, o seu objectivo era encontrar os capítulos em falta do romance inacabado Súplicas Atendidas (Answered Prayers), publicado postumamente em 1986.

Não era a primeira vez que o casal viajava até aos Estados Unidos com esse mesmo propósito, embora não se saiba sequer se os ditos capítulos existem. Há quem defenda que Capote nunca os escreveu, outros acreditam que os destruiu, outros ainda, como Haag e Roshani, apostam que os escreveu e que continuam algures à espera de ser encontrados. Uma tese que ganhou algum alento com a descoberta, em 2006, da narrativa inédita Summer Crossing, que Capote escreveu no final dos anos 1940 e que afirmava ter sido destruída.

O casal suíço falou com gente que conheceu bem Capote e, como já fizera anteriormente, foi pesquisar o seu espólio na Biblioteca Pública de Nova Iorque, conservado em 34 caixotes de cartão. No que respeita aos hipotéticos capítulos finais de Súplicas Atendidas, Haag e a sua mulher limitaram-se a somar mais um fracasso. Mas o que de facto descobriram não é menos interessante: 20 contos e 12 poemas, nem todos datados, mas todos presumivelmente escritos por Capote antes de fazer 20 anos. O conjunto é quase integralmente inédito, incluindo apenas umas poucas histórias que já tinham sido publicadas num jornal liceal. Iam à procura de um amargo Capote moribundo e saiu-lhes este jovem Capote, que teria de esperar ainda largos anos pela fama com a qual já então provavelmente sonhava.

Não deixa de ser estranho que estes textos tenham permanecido intocados durante anos numa biblioteca pública. Roshani sugere algumas explicações. Em declarações à ZEITmagazin, lembra que a biblioteca de Nova Iorque não tem dinheiro para tratar convenientemente todos os espólios literários que conserva, e acha que, nas universidades, os estudos americanos “ainda não tropeçaram em Capote”. Talvez porque “não tenha morrido há tempo suficiente”, diz, “ou simplesmente porque foi demasiado popular”.

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