EKA Palace: um espaço onde cabem todas as artes

Em 2001, Dilen Magan trocou Lisboa, “uma cidade muito fechada culturalmente”, por Londres, “onde há tanta gente e tanta cultura diferente que não há espaço para egos”. Há três anos regressou para “desestabilizar isto tudo”

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Nuno Ferreira Santos

Um palácio, salas com espaço e a vontade de "fazer algo por Lisboa". Em Setembro, abriu portas em Lisboa o EKA Palace, um centro cultural que quer albergar “todos os tipos de expressões artísticas”.


O EKA está instalado numa antiga vila operária lisboeta, na zona de Xabregas, e foi cedido a Dilen, de 36 anos, e Eurica, de 34, para ali abrirem um centro cultural e desenvolverem, “um projecto tipo Lx Factory, mas numa vertente mais ‘low cost’ e mais virada para os artistas”. Para já, na vila, que ainda é habitada e onde funciona uma creche, está a funcionar apenas o centro cultural.


O espaço ocupa o segundo andar de um palácio, que tem quatro salas grandes, quatro pequenas e dois espaços exteriores (um pátio e uma varanda). O bar já está a funcionar, há arte exposta nas paredes e arrancaram esta semana aulas regulares de Yoga, Dança e Karaté. Bastou um anúncio, “apenas num site”, a anunciar a abertura de um espaço cultural que aceitava propostas, para serem contactados por mais de 30 pessoas, contou Eurica ao P3. Mas até à abertura de portas, houve um longo caminho a percorrer. “O projecto começou há dez anos, e em Lisboa há três”, disse Dilen, que passou uma década em Londres a “investigar Cultura”.

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O EKA começou como “um projecto de vida” Nuno Ferreira Santos


A vontade de “fazer alguma coisa por Lisboa, mostrar ao resto da Europa o quanto Lisboa poderia ser a próxima grande capital europeia, ou até mundial, da Cultura” ditou o regresso a Portugal.

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Eurica e Dilen querem “fazer alguma coisa por Lisboa Nuno Ferreira Santos


A geografia “incrível”, as viagens e comida “baratas” e o lado “castiço e genuíno” são, para este casal, as "armas" da cidade das sete colinas.


“Quando na Alemanha ou em Inglaterra falo de Lisboa, as pessoas ficam ansiosas porque querem viver essa Lisboa”, referiu Dilen. Prova disso foi a presença na abertura do EKA Palace de vários artistas alemães e de um tatuador mexicano.

O DJ e a bailarina


Dilen é músico, DJ e produtor musical. Eurica é artista visual e bailarina. Conheceram-se em 2001, em Lisboa, no Massala Festival, organizado por Dilen. Ele procurava alguém que cantasse mantras e ela, como tem formação musical, cantava e tocava ocasionalmente.


Depois do festival, Dilen partiu para Londres. Na cidade onde “onde há tanta gente e tanta cultura diferente que não há espaço para egos”, conseguiu trabalhar como DJ e acabou por tornar-se director de duas empresas de telecomunicações, “devido à investigação que fez também como auto-didata”. Dilen, que tem o 9.º ano de escolaridade e um curso técnico-profissional de informática, acredita que a formação académica “é menos relevante do que a experiência e o espírito empreendedor e inquisitivo”.


Em 2001, dez anos depois de ter partido, Dilen regressa a Lisboa. Nessa altura voltou a encontrar-se, “ocasionalmente”, com Eurica.


Ela “estava interessada em desenvolver trabalho performativo com dança clássica indiana e música electrónica”, como sabia que Dilen trabalhava com esse estilo musical propôs-lhe “uma parceria profissional”, até porque “ele procurava uma bailarina com quem desenvolver trabalho tecnológico aplicado à arte”.


Foi aí que o EKA [unity] começou como “um projecto de vida”, uma “missão” de um casal de artistas “que pretende apoiar outros artistas e elevar a Arte ao devido estatuto, que, infelizmente, não tem neste momento em Portugal”.
O EKA Palace aparece como fruto de um “encontro feliz” entre um casal que já tinha um conceito, mas a quem faltava um espaço, e uma empresa, a Quo Imóveis, “que comprou uma antiga vila operária para investimento e quis desenvolver ali um projecto cultural”.


A primeira fase passa por “ocupar o palácio, tornando-o conhecido e fazendo dele uma referência enquanto espaço cultural”. “Gradualmente, ao longo dos próximos meses, o proprietário vai recuperando cada um dos edifícios, e nós vamos fazer promoção, angariação de clientes e gestão dos espaços todos”, explicou Eurica.

Um projecto com "zero cêntimos"


Uma das ideias deste casal é “rentabilizar o espaço ao máximo”. “Não vemos a Cultura como um espaço separado da economia ou da rentabilidade. É possível um projecto ser auto-sustentável, mesmo sendo artístico ou cultural”, defendem.
O EKA Palace pretende ser “uma réplica de espaços culturais auto-suficientes, que nunca precisaram do dinheiro do Estado” e, por isso, “podem ser irreverentes e políticos e não estão dependentes de lhes cortarem o dinheiro porque fizeram um exposição que não era certa”.


Além disso, Dilen e Eurica querem “mostrar às pessoas que, mesmo não tendo dinheiro, se se juntarem e trabalharem podem fazer alguma coisa”. Mostrar às pessoas “que se pode começar um projecto com zero cêntimos”, tal como eles.
Foi a “fazer festas” que começaram a ganhar dinheiro que iam juntando, até conseguirem os 250 euros para fundar uma associação sem fins lucrativos. Para ajudarem outros artistas, irão implementar no ELA Palace um sistema de residência artística.


“A ideia é um dos apartamentos da vila ser recuperado e ficar para ser utilizado por nós, para que os artistas possam usufruir dele”, adiantou Eurica. Mas para que o projecto possa manter-se é preciso dinheiro.


No caso das aulas, quem as lecciona dá uma comissão ao espaço, o mesmo acontecerá com as exposições e espectáculos, dos quais o EKA irá receber uma parte simbólica das vendas de obras e bilhetes.


Até ver, foram aceites “todas as propostas” recebidas, porque “tinham interesse e há sede dos artistas em exporem o seu trabalho”.


O EKA Palace, garantem, tem as portas abertas a “todos os artistas que nem sempre conseguem ter um espaço para expor ou ensaiar”.

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