Aos saltos, cavalos e cavaleiros ocupam Vilamoura em prova mundial

A filha do milionário do império das lojas Zara é uma das cavaleiras a participarem no Vilamoura Champions Tour. Neste domingo, em pista, vai estar Ben Maher, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2012.

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O promotor quer que as provas equestres sejam consideradas um produto turístico Vasco Célio

Cerca de quatro centenas de cavalos vão saltar, este fim-de-semana, em Vilamoura. A competição, de nível internacional, atrai atletas olímpicos, mas é o glamour associado à arte equestre que atrai os espectadores. Os cavaleiros, alguns, exibem estatuto equivalente a pilotos de fórmula 1, e com justificação. O preço de um cavalo chega a ser superior a um ferrari e o valor dos prémios em disputa atinge os 450 mil euros. Um dos pontos altos do Vilamoura Champions Tour, que decorre até 19 de Outubro, tem lugar neste domingo. Cavaleiros vindos de três dezenas de países ocupam o empreendimento turístico, fazendo do prado uma galáxia mediática – uns são famosos pelos troféus conquistados, outros distinguem-se pela fama e poder económico. Em comum, cultivam a paixão pelos cavalos.

Ben Maher, medalha de ouro nos jogos Olímpicos de Londres 2012, é um dos cavaleiros que vai estar hoje em prova. Dentro de alguns dias será a vez de entrar em pista o colega Nick Skelton, outro campeão olímpico, distinguido com medalha de ouro. No campo social, as luzes da ribalta estão viradas para uma cavaleira, amadora, que chega na próxima semana - Marta Ortega, filha de Amancio Ortega, proprietário do império Inditex, que inclui as lojas Zara. Jonh Whitake, cavaleiro que conta com mais de duas dezenas de medalhas nos campeonatos da Europa e do Mundo, é outro dos nomes do cartaz, que inclui ainda a americana Laura Kraut, medalha de ouro nos jogos olímpicos de Pequim 2008. As provas contam para o ranking mundial, e o público tem acesso livre.  

O promotor da iniciativa, António Moura, manifesta-se empenhado em “colocar Portugal na rota internacional do mundo equestre”, destacando, com especial ênfase, as particularidades do clima no Algarve. “Lá fora, os cavalos, por causa do frio, já estão a recolher a pavilhões, aqui temos sol e praia - chegou o Outono, mas o Verão ainda não acabou”, sublinha.  Ao terminar a frase, em jeito de quem apresenta um bilhete-postal, cruza-se com uma jovem. “Esta rapariga chegou uma semana antes das provas e já reservou hotel para ficar mais 15 dias depois o campeonato terminar”. A cavaleira, diz, vive em Londres e considera que estar no Algarve é quase como estar em casa. De resto, não será por acaso que a comunidade de britânicos, residentes na região, atinge os 50 mil indivíduos. Os clubes hípicos, em número crescente, são ponto de encontro onde cruzam culturas e interesses à volta dos animais. 

Golfe e hipismo de mãos dadas
Numa altura em que o Algarve turistico começa a entrar na época baixa, o hipismo e o golfe  – o Portugal Masters realiza-se, também em Vilamoura, entre os dias  9 e 12 Outubro - , procuram mitigar os efeitos da sazonalidade. Com a entrada do Outono e o aproximar do Inverno surge, como é habitual, a face negra do trabalho temporário na região: o desemprego sobe em flecha.

Mas até que estas duas modalidades consigam contribuir para evitar o encerramento de hotéis e empreendimentos entre os meses de Novembro e Março, há ainda um grande salto a dar em termos promocionais e de investimento. António Moura lembra que as provas com cavalos, relançadas no ano passado, “já atingiram um patamar superior mas ainda não foram suficientemente avaliadas enquanto produto turístico sustentável”. Da parte das entidades oficiais, diz, “não faltam as boas vontades, mas é preciso fazer muito mais”. No Vilamoura Champions Tour, exemplifica, "vão estar em disputa prémios no valor de 450 mil euros, e a Região de Turismo do Algarve apoia com 20 mil euros”.

O Centro Hípico de Vilamoura dispõe de cinco pistas, inseridas numa  área de 18 hectares, enquadrados por hotéis e campos de golfe. “No ano passado tive um cliente russa, que veio de iate, e os outros chegam de avião particular”, revela, lembrando a necessidade de projectar o evento, associando-o às condições que a região tem para captar o interesse de potenciais investidores.

António Moura, que organiza concursos hípicos desde 1998 por todo o país, observa: “Vilamoura dispõe da melhor infra-estrutura equestre que hoje existe em Portugal”.  Um milhão de euros foi quanto diz ter investido neste equipamento, há dois anos, quando deixou a Comporta (do grupo Espirito Santo) para regressar ao Algarve, com o objectivo de recuperar a “tradição e a paixão” que existe na região em relação aos cavalos por parte dos estrangeiros e, também, de muitos portugueses. “Costumo dizer que mais de 90% do PIB nacional gira por aqui, durante estas quatro semanas”, observa, referindo-se a banqueiros e outros homens de negócios que acompanham os filhos nas provas, mas também aos olheiros. “Temos cá muita gente a andar, por entre os cavalos e os cavaleiros, para ver que animal vai comprar”, confidencia.  Esse é o outro  lado do desporto, menos visível, que também está presente. “Negócios de milhões”, comenta.  De acordo com as estimativas da organização, calcula-se que campeonato injecte directamente na hotelaria e restauração do empreendimento qualquer coisa como dez milhões de euros durante o mês do campeonato.

O programa social do evento, que na totalidade terá 700 cavalos em prova, inclui um espaço, junto às pistas, a pensar no glamour que se associa à arte equestre. Um joalheiro tem expostas as suas criações, uma agência imobiliária montou um stand de venda de casas de luxo e os fabricantes de artigos relacionados com a modalidade procuram mostrar as “novidades” à clientela. O destaque dos expositores vai para uma loja italiana de fabrico de botas, de cabedal, por medida. Portugal não terá condições para competir com os italianos no calçado? “Temos qualidade, mas os italianos conseguem aquele toque de sofisticação”, observa o responsável, referindo-se ao design.

A comunidade que se forma para este evento está calculada em 1500 pessoas, incluindo cavaleiros, tratadores, veterinários e outros profissionais.   

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